No passado dia 19 de agosto, sábado, o Município de Vagos recebeu, no ancoradouro da Ponte de Fareja, em Vagos, o Barco Moliceiro “Os Violas”, que foi doado por Natalino Estanqueiro ao Município.
O emigrante, natural de Fonte de Angeão, pretendeu, com esta doação, cumprir dois objetivos: por um lado, homenagear o pai, João Violas e o tio, Manuel Violas, que dedicaram a vida à comercialização de moliço e, por outro lado, contribuir para o enriquecimento cultural da vila de Vagos, evidenciando um pouco da história de vida das suas gentes. Neste processo, papel relevante desempenhou, igualmente, o primo de Natalino Estanqueiro, Silvério Marques que contribuiu decisivamente para que tudo fosse devidamente agilizado.
Neste âmbito, foram centenas de pessoas que estiveram presentes no evento, na expetativa de ver chegar a embarcação “Os Violas”, “escoltada” por outros dois moliceiros, que haviam começado viagem a partir do Museu do Barco na Torreira, município da Murtosa, numa comitiva que incluiu o doador Natalino Estanqueiro e elementos da sua família mais próxima, representantes da Câmara Municipal de Vagos, liderada pelo presidente Silvério Regalado, da Câmara Municipal da Murtosa, chefiada pelo presidente Joaquim Batista e das Estações Náuticas da Murtosa e de Vagos, entre outras entidades presentes.
Apesar de as condições de navegabilidade não terem sido as melhores, dificultando a passagem das embarcações na Gafanha de Aquém, a chegada do Barco Moliceiro “Os Violas”, construído pelo construtor naval “Mestre” José Rito e pintado pelo artista plástico José de Oliveira, foi acolhida com forte entusiasmo pelos presentes, que receberam a comitiva com repetidas salvas de palmas e com alas abertas pelo Rancho Folclórico da Fonte de Angeão e Covão do Lobo.
Após passarem a passadeira vermelha que ligou o ancoradouro à zona de palco, deu-se início à cerimónia protocolar, na qual Natalino Estanqueiro falou do “cumprir de um sonho de ter o barco a navegar aqui na ria”. O doador aproveitou para “agradecer a todos os que ajudaram neste projeto. Foi um sonho que demorou três anos, mas que se concretizou e que está aqui à vista de todos”. Já Silvério Marques aproveitou para enquadrar que “a construção deste Barco Moliceiro teve o propósito de homenagear os nossos antigos que trabalharam bastante nesta área do moliço. A embarcação visa também simbolizar todas as gerações desta região que trabalharam no moliço. O meu primo teve esta ideia, eu ajudei-o e hoje estamos muito felizes.” Por seu turno, o presidente da Câmara Municipal da Murtosa, Joaquim Batista, aproveitou para “congratular Natalino Estanqueiro pela construção do Barco Moliceiro, símbolo identitário dos povos da Murtosa e de Vagos, para além de estar candidatado a Património Imaterial da UNESCO, numa ação efetuada sob a égide da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro.” O autarca referiu também que “só quem sente estas coisas com o coração e quer perpetuar tradições é que é capaz de gestos deste tipo. Para nós, Murtosa, é com extremo agrado e enorme orgulho que aqui estamos e que em tudo colaborámos para que este objetivo fosse uma realidade”. Já o presidente da Câmara Municipal de Vagos, Silvério Regalado, agradeceu, desde logo, o “gesto de benemerência de Natalino Estanqueiro, ao doar o Barco Moliceiro “Os Violas” ao Município de Vagos e também o contributo dado pela sua congénere da Murtosa e pela Capitania do Porto de Aveiro no processo de legalização da embarcação, trabalho fundamental para que pudéssemos ter a alegria e o gosto de chegar a este dia e de poder apresentar este barco a toda a população”. O autarca espera que “este enquadramento possa servir de estímulo a outros municípios e outros operadores”.
Depois, Silvério Regalado ofereceu ao seu homólogo Joaquim Batista e a Natalino Estanqueiro duas réplicas do Barco Moliceiro “Os Violas” e, subsequentemente a este momento, procedeu-se à assinatura do contrato de doação por parte do autarca vaguense e Natalino Estanqueiro, no epílogo de um dia memorável que teve a contribuição cultural da interpretação musical à viola e violino de Diogo Sarabando e Beatriz Capote – numa evocação histórica do que acontecia com João Violas e Manuel Violas, pai e tio de Natalino Estanqueiro nas décadas de 50 e 60 do século passado – assim como do Rancho Folclórico da Fonte de Angeão e Covão do Lobo que, em três momentos distintos, entoou as suas danças e cantares.