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MANUEL MARICATO: “CANTANHEDE É UM CONCELHO QUE ERA ESSENCIALMENTE AGRÍCOLA E HOJE É ECONOMICAMENTE DIVERSIFICADO ONDE A AGRICULTURA E A PECUÁRIA TÊM PESO REDUZIDO”

ENTREVISTAS

Manuel Maricato foi fundador da Cooperativa Agrícola da Tocha e foi vereador.

Nesta entrevista, este natural da Caniceira debruça-se sobre estes e outros temas.

 

Foste um dos fundadores da Cooperativa Agrícola da Tocha. Como recordas esse momento?

Foi um excelente momento porque tinha acontecido o 25 de Abril e este dia também foi importante para os pequenos agricultores e trabalhadores rurais.

O meu pai, que foi sempre pequeno agricultor, morreu em 2005 com o estatuto de trabalhador rural dado pelo antigo regime. Não esquecer o imposto “braçal“e tantos outros que foram abolidos com o 25 de Abril. 

A mudança do sistema corporativo (grémios e federações de grémios) para o sistema cooperativo não foi fácil. A reação por parte das forças do poder económico local e dos trabalhadores do sector corporativo juntamente com os servidores do Estado Novo obrigou a trabalho suplementar.

Ainda bem que com o tempo tudo se conseguiu.

Com Manuel Simões Matias “Faneco”, Eng. Júlio Cardoso, dr. José Costa, eu e mais uma dúzia de agricultores conseguiu-se instalar a Cooperativa Agrícola da Tocha.

Nos primeiros tempos da Cooperativa trabalhou-se num espaço de 14/16 m2, com adubos, rações e pesticidas a que se juntava os serviços de escritório. Trabalhava-se 14/16 horas por dia e aos domingos de manhã. 

A disponibilidade do M. F. A. em ajudar com um camião e um motorista foi importante para se poder fazer chegar adubos e rações aos agricultores aderentes. Nós com um diretor, fazíamos as entregas ao domicílio.

Quando do 25 de Abril eu já me encontrava a estagiar na Lacticoop.

De imediato foi interrompido o estágio e há que trabalhar na substituição da organização corporativa pela organização cooperativa com a formação de cooperativas agrícolas. Assim se fizeram a cooperativa agrícola da Tocha e tantas outras na região. 

 

E hoje como vês aquela que ajudaste a fundar?

Hoje a Cooperativa Agrícola da Tocha é uma grande empresa económica da região, feita no passado à custa dos produtores de leite.

Penso que as Cooperativas terão de ter também objetivos sociais. A Cooperativa Agrícola da Tocha deveria dar mais atenção aos agricultores existentes e ter também projetos de desenvolvimento da agricultura na região com o aumento do número de novos agricultores. A desertificação é uma realidade às portas do oceano e compete às cooperativas tudo fazerem para contrariar tal tendência. 

A guerra da Ucrânia veio demonstrar a nossa dependência alimentar. 

O preço da batata de consumo, em sacos de 20 kgs, que no ano passado andava na ordem dos 0,35 €/kg, hoje a mesma batata custa 0,70 €/kg.

 

Foste vereador da Câmara Municipal de Cantanhede. Que balanço fazes desse tempo?

Como vereador da Câmara Municipal de Cantanhede foi mais um serviço público, uma vez a minha entidade patronal não me ter disponibilizado tempo para melhor exercer as funções/ pelouros que me estavam atribuídas. A razão principal para recusar a recandidatura à Câmara e optar por me candidatar à AM.

Em 4 anos de governação penso que se virou o concelho. Desde a intervenção na Praia da Tocha, nas zonas industriais, nas acessibilidades, na reconversão do centro de Cantanhede, nos Olhos da Fervença e no reforço da água a Cantanhede e Praia da Tocha, na Expofacic. Foram obras estruturantes que perduram no tempo.

 

Como vês hoje o teu concelho?

Cantanhede é hoje um concelho muito melhor do que quando o encontrámos. 

O concelho, que era essencialmente agrícola, é hoje um concelho economicamente diversificado onde a agricultura e a pecuária têm um peso reduzido.

 

A Banda da Paróquia representa alguma coisa para ti? Porquê?

A Banda da Paróquia é um projeto católico que integra o meu filho e um sobrinho.

Nasceu no seio dum grupo de jovens católicos, com o apoio do padre João Paulo, que por acaso já tinha passado pela Paróquia da Tocha e da Sanguinheira.

Nem nas tendências religiosas, políticas ou clubísticas os pais tiveram qualquer influência.

 

Nasceste na Caniceira. O que representa para ti esta terra?

A Caniceira foi onde nasci, cresci e onde vivi parte da minha vida. 

Ainda hoje faz parte do meu dia a dia. 

São as minhas origens, da família e de amigos.

Hoje custa-me olhar para a recessão da agricultura e para a desertificação da minha aldeia e a falta de investimento a que está votada, ao contrário da aldeia vizinha das Cochadas.

 

Que esperas ainda no teu futuro?

O meu futuro é viver o melhor possível.

Trabalhando enquanto puder e convivendo quanto melhor.

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