Victor Matos nasceu em Portomar e desde julho de 1987 que vive e trabalha no Canadá. A sua vida, as suas ideias, estão aqui à espera que as conheça.
Há quanto tempo está fora de Portugal?
Emigrei para o Canadá há quase 36 anos, em julho de 1987, umas semanas antes de completar os 17 anos, com a minha mãe, irmã e irmão. O meu pai tinha emigrado um ano antes e viemos juntar-nos a ele. Quando cá chegámos, ele já estava imigrante legalizado, com emprego estável, e uma casa comprada, apesar de financiada pelo banco, claro, e mobílias essenciais, usadas, não nos faltou nada. Depois, aos poucos, foi-se melhorando…
Eu tinha completado o 10º ano na escola secundária de Mira. No Canadá continuei os meus estudos. Completei a escola secundária no Canadá e mais outros 5 anos em estudos pós-secundários. No bolso, trazia uma cábula com palavras em Português e Inglês e até um minidicionário. Eu já tinha alguma base conseguida nas aulas de inglês em Portugal, e o resto foi-se aprendendo…
O meu pai foi trabalhador de construção e a minha mãe foi operária numa fábrica. Eles deram-nos a oportunidade e o apoio necessário para completarmos os nossos estudos conforme desejámos. Nós sempre vivemos na região de Hamilton, província do Ontário.
O que faz profissionalmente no Canadá?
Desde 2001 que tenho uma companhia de investimentos, financiamentos de hipotecas e seguros pessoais. Tenho um escritório na zona central da cidade de Hamilton e sou representante de vários Bancos e companhias de seguros e investimentos.
Antes disso, trabalhei durante 11 anos num banco Canadiano (Royal Bank). Durante os primeiros anos de emprego no tal banco, ainda continuei os meus estudos à noite até conseguir as credenciais que desejava. Quando me senti com confidência suficiente, comecei a trabalhar por conta própria… tinha 31 anos na altura…
As saudades da sua terra, Portomar, como as “mata”?
Esta é uma pergunta difícil… atualmente, com as plataformas sociais, os grupos, e as edições eletrónicas dos jornais locais, como o Jornal da Gândara, por exemplo, torna-se mais fácil. Assim como a ligação com amigos e familiares residentes na terra natal, através das suas publicações, vamos nos mantendo a par do que se passa. Antigamente era muito mais difícil… as chamadas telefónicas eram caríssimas, os jornais locais demoravam duas semanas ou mais a chegar ao Canadá… e havia pouca comunicação… de vez em quando, escrevíamos e também recebíamos cartas de familiares e um outro amigo mais chegado… era assim.
Agora também temos acesso às videochamadas com amigos e familiares…
Isso tudo, ajuda muito…, mas quando se pode, damos um salto até à nossa terra, e vamos vivendo desse jeito…
Já pensou num regresso definitivo?
Houve uma altura em que eu e a minha esposa (natural da Praia de Mira), ponderámos seriamente essa opção. Chegámos a ir a Portugal e explorar empregos, compra de casa, mas depressa nos apercebemos que teríamos de aceitar muitas privações. Os nossos ordenados aqui no Canadá proporcionam-nos uma vida mais folgada financeiramente. Além disso temos acesso a recursos, regalias e outro ambiente social que não existe em Portugal.
Agora temos dois filhos a frequentarem estudos pós-secundários, que nasceram aqui e falam inglês como língua materna. A minha esposa e eu ainda temos cerca de uns 10 anos de trabalho ativo até pensarmos na opção de uma reforma. Talvez quando isso acontecer, possamos considerar passar mais tempo em Portugal, mas definitivamente, é muito pouco provável.
Por enquanto, ficamos por aqui. Estamos bem inseridos na comunidade canadiana e nos sentimos bem aqui. Nos nossos empregos, com amigos e muitas vezes até em casa, o inglês é a língua principal. Vamos tentando não esquecer o português e praticando também a escrita quando se pode…
Como vê, assim à distância, o desenvolvimento da sua terra e do seu concelho?
Gosto do progresso que se tem visto nos últimos anos, mas infelizmente, não é consistente. As afiliações partidárias e até os amigos e apoiantes afetam isso muito. Podemos observar um melhoramento num local, área, ou serviço, por exemplo, mas depois nem sempre existe a manutenção ou continuidade. Do mesmo modo, quando há eleições e a cor política muda, nem sempre se vê consistência de atitudes…
Além disso, a falta de civismo de muitas pessoas é vergonhosa. Reparamos quando se faz algo e depois destroem ou roubam, pelo simples prazer de destruir ou roubar… ou deixam lixo em locais não próprios. Sou amante de animais, tenho um cão, já tive gatos e tratamos deles como se fossem membros da família. É muito chocante quando vamos a Portugal e vemos animais abandonados, a passar fome e a serem maltratados…. aqui, não vimos isso…
A corrupção, os favoritismos, e a falta de justiça e punição adequada, encoraja muitos à desonestidade…
Portugal tem muito que aprender se quiser ser considerado um país do primeiro mundo, apesar de pensar que já o é… Há muitos portugueses que se esforçam, mas ainda tem alguns que deixam muito a desejar…
Às vezes, quem está por fora, fica livre de influências e vê melhor que se passa lá dentro…
Obrigado pela oportunidade.