Mais um ano letivo que atinge o seu fim, este sem dúvida dos mais desafiantes para toda a comunidade educativa, quando há cerca de dois anos se falava das consequências que a pandemia de Covid-19 traria a educação dos nossos jovens e como seria o maior desafio dos últimos anos, nunca se pensou, ou preferiu não se pensar nas dificuldades que o desinvestimento no ensino público ou das alternativas ao mesmo poderiam trazer ao nosso futuro. Falta de professores, professores cansados de não terem condições para viver, carreiras congeladas, milhares e milhares de jovens a emigrar por não encontrarem no seu país natal as condições para terem uma vida digna são apenas alguns dos muitos problemas que o nosso país enfrenta. Mas no meio desta tempestade pedem-se serviços mínimos, como se a vida dos profissionais não fosse já deveras complicada, tenta-se retirar também um dos últimos direitos que possuem, o direito de protestar. Se estas pequenas greves vão resolver o problema, claro que não. Mas são um direito, um direito que podendo prejudicar quem prejudicar foi um direito conseguido quando todos os restantes. Mas foquemos a nossa atenção naqueles que olham para os meses, talvez anos que se seguem sem qualquer perspetiva de futuro. Os nossos jovens, esses que não sabem se vão ter os exames de acesso ao ensino superior se não, e se os tiverem em que condições os terão. Este é o primeiro desafio, o primeiro desafio de milhares de jovens que precisam daquela nota para seguir os seus sonhos, e os sonhos de toda a sua família. Mas este é só o pico do iceberg, porque caso consigam entrar no ensino superior nada lhes garante que o consigam terminar, no ano letivo de 2020/2021, 10,8% dos estudantes de licenciatura abandonaram os seus estudos (Público, 16 de julho de 2022), aumentando cerca de 1 valor percentual em relação ao ano anterior, uma tendência que parece querer aumentar. Seria isto um problema se este abandono acontecesse devido a falta de interesse no curso ou melhor oportunidade de vida, penso que não. Contudo isto deve-se ao crescente custo de vida, um aluno em Coimbra gasta 518 euros por mês sem contar com o pagamento de propinas (Público, 7 de julho de 2023), valor que é incomportável pela maior parte das famílias. Mesmo os jovens que trabalhem para pagar as suas despesas não conseguem manter uma vida digna e estudar ao mesmo tempo, levando-os muitas vezes a escolher o emprego em vez dos estudos. Para além deste problema monetário, temos o problema com a habitação, mesmo que se possua capacidade financeira para pagar todos estes custos, muitos jovens não encontram casa para morar, desistindo dos seus objetivos. E para aqueles que concluem os seus estudos no ensino superior, o futuro fica mais risonho? Cerca de 60,7% dos jovens entre os 20 e os 30 anos que trabalhem por conta de outrem recebem menos de mil euros líquidos por mês (Sic Noticias 28 de março de 2023), tendo existido ainda um decréscimo do valor recebido por um jovem recém-licenciado em comparação a 2006, que era na altura de 1088€ e agora de 1050€, acontecendo exatamente a mesma coisa com jovens com mestrado. Olhando para estes números, o que resta aos jovens? A imigração, um fenómeno que recorrente nos últimos anos, Portugal exporta talento e depois vê-se obrigado a importar talento estrangeiro, buscamos fora o que não temos capacidade de reter dentro das nossas fileiras. Muito devemos à escola pública, muito devemos aos hospitais públicos, mas está na hora de procurarmos mudar de rumo, os nossos jovens merecem ter certeza de acordar todos os dias com aulas, os nossos idosos merecem ter a certeza de acordar todos os dias com hospitais que sejam capazes de os servir sem horas e horas de espera. Os nossos jovens merecem um país que lhes dê certezas, ao contrário do futuro incerto que todos eles neste momento têm, eles merecem mais, e terão de ter mais, senão corremos o risco de caminhar a passos largos para um futuro tenebroso e do qual as consequências não terão solução.
Celso Monteiro