Silvério Manata é escritor e foi o primeiro Grão-Mestre da Confraria Nabos e Companhia. Nesta última condição, fala-nos sobre aquela que ajudou a nascer.
Como o primeiro Grão-Mestre da Confraria Nabos e Companhia que balanço faz desta XVII Feira dos Grelos?
Naturalmente, um balanço positivo. Assumindo que há dezasseis edições da Feira dos Grelos vimo-nos empenhando em a aprimorar e o grau de qualidade da décima sétima foi inteiramente conseguido.
A Confraria, em seu entender, foi a “pedrada no charco” que surgiu no concelho de Mira?
. Conscientes de que nos cumpre preservar os valores imateriais da cozinha tradicional, procurámos, desde o ano 2000, promover os genuínos paladares da nossa região.
Neste contexto, os Nabos convocaram as gentes de Mira que, não se fazendo rogadas, sentaram à mesa a alma gandaresa. Entusiasmadamente.
No princípio achou que ela iria ter a projeção que tem hoje?
Honestamente, não. Mas quando os Nabos e Companhia têm implícito o conceito de Irmandade, de entreajuda, e quando as sucessivas lideranças sabem gerir essas boas vontades, o reconhecimento aparece.
A Confraria tem um espaço para os seus autores. Como escritor, a ideia agrada-lhe?
Certamente. Embora estejamos vocacionados para comer – o que vai muito para além da prosaica tarefa do aparelho gastrointestinal – interessa-nos, enquanto associação cultural, o mundo dos livros. Como tal, temos apoiado a edição de alguns e abrimos as portas da nossa sede à apresentação dos trabalhos de todos os autores, assumindo-se, com legítima vaidade, a Confraria Nabos e Companhia como uma das referências culturais do concelho.
Em termos gastronómicos, até que ponto é que a Confraria “revolucionou” a gastronomia de Mira e da região?
Uma Confraria Gastronómica deve ser, por definição, guardiã dos sabores tradicionais. Nesse sentido não lhe cabe «revolucionar» a autenticidade do legado dos nossos maiores. Todavia, se considerarmos que fazemos acompanhar os saberes e sabores da Gândara antiga pelos versáteis grelos de nabo de Carapelhos temos de admitir que inovamos, o que, certamente enriquece o nosso património gastronómico. Aliás, o que é hoje tradição em algum momento foi novidade e mudança.
Como vê o futuro daquela que ajudou a fundar?
Pela juventude e entusiasmo dos confrades que têm sido entronizados, com muita confiança.