Há dias, na minha caixa do correio, encontrei um panfleto de uma Madame Rose que promete resolver todos os problemas da minha vida, sejam eles económicos, amorosos ou de mau-olhado.
Horas depois na televisão os “novos candidatos” a Primeiro-ministro tentavam novamente enganar-me e enganar o povo que os vê e ouve.
Em primeiro lugar, em Portugal, não há eleições para Primeiro-ministro. Todos sabem que o Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, depois de consultados os partidos que elegeram deputados à Assembleia da República. Tradicionalmente, o chefe de Estado designa o chefe do partido maioritário mas, em última instância é sempre a Assembleia da República que tem a palavra final.
E, mais gritante ainda, é a apresentação descarada de propostas que eles sabem que não cumprirão. Não as cumpriram no passado, não as apoiam no presente e sabem que não terão condições para as levar a cabo no futuro. Mas prometem, tal como a madame Rose promete resolver-me os males de amor, sem acreditar no que dizem, mas acreditando na ignorância e credulidade do povo que os ouve.
Desde os que prometem entregar a cada aluno um cheque ensino de valor fixo que lhe permitirá escolher a escola que mais entender, sem explicar como, depois da privatização de todas as escolas, e defendendo a iniciativa privada, vai controlar o valor das propinas.
Passando pelos que querem reduzir os impostos mas aumentar os apoios do Estado, privatizar a saúde mas garantir o acesso de todos aos cuidados médicos de que necessitam.
Sem esquecer aqueles que outrora congelaram carreiras e cortaram nas reformas e agora, mãos largas, prometem repor tudo o que outrora tiraram, mas que, não sendo governo, votaram contra aquando das propostas apresentadas para resolver esses problemas.
Quanto à força política que nos desgovernou nos últimos anos, não percebo porque ainda não cumpriram o que, mais uma vez, prometem agora fazer.
E ano após ano, vão enganado o povo, acenado em frente de cada cidadão a “cenoura” que o fará continuar a caminhar atrás deles.
E ano após ano o descrédito na política vai grassando no meio dos cidadãos que cada vez se sentem mais ludibriados por aqueles que prometem um mundo melhor mas se deixam ficar pelo que é melhor para eles e para os seus amigos mais próximos.
Marcelo assumiu no início da sua presidência ter como objetivo conseguir do governo a realocação dos moradores de rua. Hoje estima-se que o seu número tenha aumentado significativamente, sobretudo nos grandes centros urbanos como Lisboa e Porto. E não é o jantar de Natal com rancho melhorado nem a presença e os cumprimentos do presidente da República que lhes resolverão os problemas do resto do ano.
Mesmo nas autarquias, onde a proximidade com os cidadãos e a possibilidade de maior monitorização são mais evidentes, as propostas eleitoralistas (que não eleitorais) enchem as caixas de correio em períodos pré eleitorais e são depois rapidamente esquecidas e colocadas no caixote do lixo, seja ele real ou virtual.
E ano após ano vamos acreditando nos milagres e insistindo no caminho até ao voto ou, simplesmente, ignorando e esvaziado de poder aquela arma que um dia Abril nos deu para lutar contra o que nos oprime e injustiça, deixando as decisões em mãos alheias que pouco ou nada se preocupam connosco.
Mais perspicaz que muitos dos cidadão de hoje foi António Aleixo, um homem simples, humilde e semianalfabeto, que há quase 100 anos mostrava assim a desconfiança que muitos não têm.
Vós que lá, do vosso império
Prometeis um mundo novo
Calai-vos que pode o povo
Querer um mundo novo, a sério!
Maria de Fátima Flores
Professora aposentada, militante do Partido Ecologista Os Verdes, eleita pela CDU na Assembleia de Freguesia de Arcos e Mogofores (Anadia)