Paulo Alexandre Almeida nasceu em Portomar, é músico e bancário. Reside em Coimbra. Fique por dentro das saudades que fazem parte dele.
A música começou cedo a mexer contigo?
Como intérprete começou mais tarde do que desejaria: só aos 17 anos comecei a aprendizagem da viola/guitarra clássica.
Nessa altura, 1979/1980, as oportunidades de aprender a tocar um instrumento fora dos principais centros, que não fizesse parte dos que tradicionalmente integram as filarmónicas eram escassas. Felizmente que esta realidade tem vindo a ser profundamente alterada desde há vários anos.
(a minha homenagem a estas “escolas democráticas” que, ao longo de mais de um século, têm vindo a formar músicos e a educar para a arte musical)
Os PRIMVS marcaram-te?
Tinha vinte e poucos anos quando os PRIMVS entraram na minha vida.
O grupo permitiu-me consolidar amizades que perduram e perdurarão. Foi um período muito bom, que definitivamente me marcou.
Todos estávamos verdadeiramente envolvidos no projeto, não obstante as largas horas de que tínhamos de dispor para realizarmos cada baile: éramos nós, com o apoio de um ou outro amigo, que tratávamos de todo o “processo”, que finalizava a altas horas da madrugada quando deixávamos o equipamento e os instrumentos no local onde ensaiávamos e de onde, cerca de 12 horas antes, tínhamos saído.
Mas éramos recompensados com uma legião fiel de fãs que sempre nos acompanhava.
A guitarra, pode dizer-se, que é da tua família?
Com certeza. A guitarra de Coimbra é o meu instrumento musical por excelência. A ela me dedico com imensa satisfação há 41 anos. É como que uma parte de mim. Nas férias faz parte da bagagem.
Pardalitos do Mondego o que representam para ti?
O grupo Pardalitos do Mondego (tal como o Raízes de Coimbra) permite-me manter atividade regular no Fado de Coimbra, género que comecei a interpretar em 1981.
Para além da forte amizade que une os elementos do grupo, especificamente no Pardalitos do Mondego agrada-nos sobremaneira a criação de novos temas, umas vezes integralmente compostos por elementos do grupo, outras utilizando palavras de poetas reconhecidos ou com os quais temos uma ligação próxima. A este propósito, no ano que vem será lançado um segundo trabalho de originais do grupo.
Ciclos, um grupo que também te traz saudades?
O Ciclos foi um projeto que me deu um prazer muito especial integrar.
Foi a primeira vez que, com carácter não ocasional, utilizei a guitarra portuguesa fora do seu habitat natural.
O grupo era composto por instrumentos diversificados, os temas tinham arranjos que lhe conferiam uma sonoridade muito própria, …, recordo o Ciclos com saudade.
E onde é que entra o cidadão – bancário?
O cidadão, que profissionalmente é bancário, procura gerir o tempo de maneira a manter disponibilidade para a família, para os amigos e para os hobbies, onde a música tem um papel central.
Há sempre música entre nós?
Alguém disse que a vida sem música é um erro (quanto mais não seja na versão de ouvinte). Não concebo o meu percurso de vida sem manter a ligação estreita com a música. É quase como que uma necessidade orgânica.
Rui Pato, um amigo?
Prezo muito ter o Rui Pato como amigo, um bom amigo.
Conviver com ele, desde logo nas atividades do Raízes de Coimbra, é para mim um privilégio. Íntegro, bom companheiro, amigo do seu amigo, contador de episódios que viveu (ou conhece) ao longo da sua extensa e profícua ligação ao fado, baladas e trovas.
Não deixa de ser curioso que eu integre o mesmo grupo de Fado de Coimbra que o Rui, viola que eu tanto ouvi nos meus inícios de aprendizagem musical. Quantas horas passei a ouvir e a procurar reproduzir os arranjos que criou para os temas em que acompanhou José Afonso.