Os caldos e sopas têm origem na antiguidade, acompanham a evolução, de mão dada, com a história da humanidade. Desde que o homem passou a comer alimentos cozidos, após a invenção do fogo, dos primeiros recipientes, tirando partido de um poderoso recurso na junção do fogo com a água, bagas e plantas.
As suas combinações são das mais populares e mais saudáveis em todo o mundo, atravessando séculos, todo o tipo de cozinhas, ricos e pobres, religiões, etnias, culturas.
Não há melhor remédio como um caldinho troncho para curar os males das noites frias quando o diabo anda à solta, a vingar-se dos que lhe fecharam as portas, agitando as árvores, empurrando a chuva em cima dos telhados e acender fogueiras. Só há uma maneira de o devolver às profundezas do inferno, enfiar pela goela, generosas colheradas de sopa de sustância bem fumegante, com paladar à terra.
A irresistível sopa, campeã dos afetos, é como um sentimento que nos abraça e afaga, acolhe e conforta, nos dá ternura e energia, nos torna fortes e resistentes, sobretudo nas noites mais longas. A ligação dos produtos da terra ao homem é que ambos não conseguem viver um sem o outro.
A mãe terra está para o universo como os intestinos estão para o nosso corpo.
Se o nosso comportamento para com a terra é de más praticas, ela, responde-nos com chuvas torrenciais, as secas, os ciclones, os incêndios. O mesmo acontece com os nossos intestinos, quando as práticas alimentares não são corretas, logo nos responde com indisposição, asia, vómitos, diarreias, sintomas que se espalham pelas células do corpo, se transformam em diabetes, obesidade, envelhecimento precoce, cancro.
Os caldos e as sopas são um poderoso recurso que combate quase todos os males. São confeções alimentares que se prestam à confeção de produtos naturais, que se obtém da cozedura de peixes, carnes ou legumes, são enriquecidos ao gosto da nossa imaginação.
A infinidade de caldos e sopas são a confirmação do imaginário humano, ponto de partida para a base destas preparações, desde a cozinha caseira, étnica, familiar, popular, tradicional e a mais elaborada que interpreta a cozinha popular com as velhas tradições onde os produtos locais e a técnicas de elaboração são pilares sólidos, apoiados nos sabores próprios de cada ingrediente.
Portugal é considerado um dos países onde a tradição de comer sopa faz parte da nossa cultura alimentar; caldos, sopas, papas, magustos, cremes, gaspachos, consomés, canjas, açordas, migas, ensopados, constituem uma diversidade tamanha de versões que nos torna um dos povos mais saudáveis, com uma forte tradição alimentar ancestral e aos produtos da terra.
Bom apetite!
Um abraço gastronómico.
Mário Moreira
