Sábado ao entardecer, à mesa, recheada de petiscos tradicionais; bolo de sardinhas, bolo de toucinho, bifanas, cebola crua em vinho tinto, caldo verde, vinho verde tinto na companhia de um belo naipe de pessoas fraternais; Costa, Graça, Elvira, Dina, Fernando, Pereira, Vítor, em ambiente pitoresco, sem etiquetas, sob o olhar imponente do Mosteiro de Guimarães/Pousada de Santa Marinha da Costa, começo a ser incomodado com mensagens de um número de telemóvel desconhecido.
Alguém que me chama a atenção, sente-me a começar perturbado. Estou ao telefone, envio mensagens, falo sozinho, levanto-me, volto a sentar-me, mais mensagens…
– “Olá Pai, podes mandar uma mensagem por aqui? O meu telemóvel estragou-se! Este número é de uma amiga!”
– Olá viva como estás?
– “O meu telemóvel caiu à sanita e nada funciona agora”!
– Na sanita? Tão estranho!
– “Pai posso pedir um favor? Neste momento não consigo entrar na minha conta no banco e tenho de fazer um pagamento hoje. Queria perguntar se consegues ajudar com isto. Eu envio-te o dinheiro amanhã para a tua conta.
Por favor? A conta é 684.87€”.
– Estou a tentar ligar para este telefone 932135564 (o telefone burlão), não atendes porquê?
– “E um pagamento online pai, comprei uma coisa pela net, estou ao telefone com o banco (!) porque não consigo entrar na conta. Pai, podes fazer a transferência?”. Sinto sinais de desespero, um stress estranho, mau português, não me cumprimenta, aquele telefone não responde, “tenho de pagar hoje”, “manda o comprovativo”. Como se não conhecesse bem a minha filha. Em situação alguma teria este comportamento.
– Já fiz a transferência, escrevo eu!
– “Pai manda a foto do comprovativo”, insiste!
Mal senti o prazer do cheiro tostado do bolo de pão ázimo (1 chávena de farinha de trigo, 1 colher de chá de sal, água tépida, 1 colher de sopa de azeite) com sardinhas e o sabor do vinho verde efervescente a subir-me pelas narinas, a fazer-me cócegas no céu da boca.
Decidi ligar para o seu número e contar-lhe a história. Rimo-nos num sentimento de revolta e vitória.
Mais tarde voltei a dizer para o tal número que tinha feito a transferência, mas quem eram desistiram, sentiram-se apanhados. Fiz queixa da PSP de Guimarães, dando informação daquele número de telemóvel fraudulento.
Senti um alívio, voltei à fila, queria sentir o cheiro do pão saído do forno. Sugeri fazer umas sopas de “cavalo cansado”. Estava a sair broa do forno. Miguei para uma malga em bocadinhos, juntei vinho tinto até às bordas, (se o vinho estava ameno, quente ficou) e, envolvi duas colheres de sopa de açúcar amarelo, soube-se tão bem este petisco madrugador que me azedou o estômago!
Bom apetite!
Um abraço gastronómico.
Mário Moreira