– Sai um “Rodovalho na brasa com molho branco”!
A brigada de cozinha fica incredulamente especada, à espera que alguém se mostre, que confirme o pedido. Perante o silêncio do chef e da sua equipa, entra na cozinha o chef de sala na companhia do gerente da empresa a confirmar o pedido.
O chef de cozinha, pregado ao chão, diz;
– Há “Nacos de Lombo de Boi”, “Polvo” e “Bife Wellington”, do evento, em 10 minutos podemos servir.
– Não quero nada disso! Quero o Rodovalho! Disse o gerente, virando as costas.
Os 134 clientes jantaram há mais de 2 horas, passam 42 minutos da meia noite do dia 31 de dezembro. É já 1 de janeiro, toda a gente comida e bem bebida, efusivamente dança e festeja o novo ano.
1 h da manhã, entra de novo o gerente na cozinha e pergunta!
– Como está o meu Rodovalho, demora muito?
– O chef, responde! – Sr. Entramos, às 9h30 da manhã na cozinha, para fazer a mise-in-place do almoço e da passagem de ano. Não paramos para almoçar. Não paramos para lanchar e estamos sem jantar. Não tivemos oportunidade de festejar com a família nem sequer abrir uma garrafa de espumante e brindar em equipa. Há muito trabalho de acomodação e limpeza para fazer, de preparação para amanhã. Daqui a nada teremos de estar aqui, para preparar a ementa do almoço do 1 dia do novo ano. Estamos a trabalhar há 15 horas consecutivas, sem nada à boca, fizemos um esforço titânico, o serviço foi um enorme sucesso, recebemos elogios de vários clientes que aqui se deslocaram para o efeito. Nem um obrigado das chefias, nem um brinde com a equipa. Aproveito para lhe pedir um aumento de ordenado a partir do ano que entramos.
– E que tem, fico sem jantar? Ninguém respondeu. A noite ficou manchada com este comportamento. Ninguém queria acreditar.
A equipa de cozinha, desligou-se de tamanho desprezo e em segundos tudo se apagou.
Isto acontece com frequência na restauração, onde se trabalham horas sem tempo para a refeição, sem reconhecimento e gratidão, sem tempo para a família. Os profissionais não se conseguem aguentar, muitas vezes só à custa de drogas e são muitos que as usam para se manterem de pé.
É uma das razões que motiva muitos profissionais ao abandono da profissão e do país. A gastronomia, a cozinha portuguesa fica cada vez mais pobre.
Votos de excelente ano com novas conquistas!
Um abraço gastronómico.
Mário Moreira
