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OS SABORES DO CHEF: A MÓ

Sabores do Chef

A Mó ou azenha, são uma intenção entre duas rodas, uma lisa, outra mais rústica, aproveitam a força motriz da água, moem os grãos em farinha. Por isso se diz que duas mós iguais não fazem farinha. 

A história do sucesso deste santuário, a Mó, tem por coincidência dois Abílios, que durante muitos foram as duas mós que fizeram girar e crescer este lugar de culto de bem comer. Nasce pela necessidade de venda de excedentes do pescado nas águas de Esposende, pelo Abílio, pescador. Um dia, o Abílio “batata”, vimaranense, inspetor de finanças, cobrador de impostos, descobriu a Mó. Tomou-a durante muitos anos como o seu local de refúgio e de trabalho preferidos. Uma troca de favores, entre homónimos, levou ao rápido crescimento desta casa de bem comer. O Sr. Inspetor, com cognome herdado de seu pai, vendedor de batatas, montou ali o seu estaminé e em troca divulgava a casa, recebia os seus “clientes”, sempre com soberbas tainadas.

A Mó, santuário de crescer água na boca e de bem moer, peixe fresco, grelhado ou em caldeiradas, fica em Fão-Apúlia, Esposende, sob a batuta da Natália, filha do Abílio, o pescador.

Não tem publicidade, não tem à porta os vulgares letreiros do café, cerveja, gelado ou esplanada. Quem ali passa não encontra a porta aberta, a porta abre-se a quem faz reservas.

No verão, a Mó presenteia aos mais fiéis, excelentes alternativas de pequenos refúgios escondidos sob as latadas de vinho verde branco e kiwis, nas traseiras da casa, onde se ouvem os passarinhos e os bateres da maresia.

Negócio de família, descontraído, sem etiquetas, onde o acolhimento, a simpatia e qualidade dos produtos são os seus grandes pilares. A outra parte da mó são os grupos de amigos que ali se deslocam de todo o lado. Um grupo a deram o nome de “Românico” por serem sabedores estudiosos do património material, convidaram-me para os acompanhar e fiquei como o gastrónomo romântico. Esta confraternização regular. tem ao leme, Fernando Capela Miguel, “sábio, prudente, somítico, generoso e louco”! À mesa não se fala de coisas sérias, porque nenhuma é para brincar, muitas vezes com demasiada pimenta, mas com enorme sobriedade e sabedoria, pelo prazer da vida, da mesa e da comensalidade, e, não daquelas conversas de chacha, ou balelas, que nada preenchem ou acrescentam.

Sardinhas na Grelha

Na Mó, há uma maneira genuína de “assar” as sardinhas. Após estar em brasa, as sardinhas são colocadas na grelha. Recebem sal grosso, na parte final, durante 2 minutos de casa lado. Acompanham uma soberba salada de tomate coração de boi, bem maduro, nacos de cebola, em vinho tinto, azeite e sal grosso, pão rústico da avó e vinho tinto verde de pintar a beiça. Uma técnica a seguir. Rente à cabeça da sardinha, enfia-se a faca pontiaguda que desliza e retira a pele enfolada do peixe.

Bom apetite!

Um abraço gastronómico.

Mário Moreira

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