Quando aparece na sala do capítulo, Hercílio, jovem serviçal, está apavorado, pálido, a sua língua tropeça nas palavras.
– Senhora minha, meu senhor, a sertã…, disse, perante os seus senhores, ajoelhando-se!
O duque levantou-se de um salto… – A minha frigideira?
O jovem pajem de franja de cabelos a tapar-lhe os olhos, nervoso, fazia-a esvoaçar, expelindo ar pela boca. Nada conseguia dizer, quase desmaiava na sua ofegância.
O duque, acalmou-o, fê-lo sentar-se, com voz tranquila.
– Fala filho, o que aconteceu à minha frigideira?
– A sertã, meu senhor, caiu!
– Oh! Amolgou-se?
– Não sei. Meu senhor, mas o abade, o abade morreu!
De repente todos notaram que o abade Nicolino não estava sentado à mesa com os restantes comensais.
– Morto? Perguntou o duque!
– Morto com a cabeça rachada no banco.
– Onde? Voltou de novo a perguntar, Afonso. – Na adega, senhor, informa, Hercílio.
– Foram os servos que deram com ele. O diabo passou ali, há muitos diabos nas chaminés, pelo menos uns mil, dizem os servos, que os vêm. Costumam estar escondidos nas cinzas. Quando pegam nos atiçadores para mexer as brasas, saltam-nos em cima, são medonhos.
O pajem, numa crise de soluços, lançou-se aos pés da senhora, sua marquesa, escondendo o rosto no seu colo.
Enquanto a marquesa o consolava acariciando-o, o duque dirigiu-se à cozinha para se inteirar do fatídico acontecimento à sua frigideira.
– Na verdade temo que a sertã se tenha amolgado, meu senhor! Disse o moço serviçal, com a concordância de Dionísio, o chef de cozinha e seus servos.
– Que pena, a minha melhor frigideira, disse o duque.
Uns dias depois de terem terminado as exéquias do abade Nicolino, o duque mostrou tamanha tristeza e insatisfação pela sua frigideira, a sua preferida, a sertã onde fritavam os seus “Rojões à Moda das Terras de Vimaranes”, que até mandou rezar missa.
Pobre frigideira! – Disse o duque!
“Pedaços de toucinho com nacos de pão de milho fritos”
Toma-se 1kg de toucinho e cortam-se em pequenos pedaços, colocam-se numa marinada de um dia para o outro; 2 dentes de alhos esmagados, 1 folha de louro, 1 colher de sopa de sal grosso, não havia cominhos, 2 colheres de sopa de vinho tinto avinagrado. Ao lume, uma frigideira com banha fervente, fritam-se os nacos de toucinho. Retiram-se, colocam-se em cima de folhas de videiras, a escorrer o pingue. Na mesma gordura, colocam-se pedaços de pão de milho, do dia anterior, até corarem. Retiram-se, colocam-se num prato côncavo de madeira e em cima dispõem-se os nacos de toucinho frigidos. Pode acompanhar com cebola cortada em gomos em vinho tinto, azeite e sal grosso.
Amén!
Bom apetite!
Um caloroso abraço gastronómico.
Mário Moreira