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OPINIÃO: OS SERVIÇOS FLORESTAIS EM MIRA

Opiniao

PARTE 1.

Aviso prévio: Sou Licenciado em História-Modalidade C, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), mas não é nessa qualidade (Historiador) que escrevo.Vou limitar-me a relatar a minha experiência de vida sobre os Serviços Florestais de Mira, pois foram vinte e cinco anos da minha participação cívica na vida social do País onde nasci, em 1946.Entrei para o serviço da Administração Florestal de Mira em 8 de Maio de 1958 – e saí para a Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral, em Coimbra, em 1983. Foram, pois, 25 anos de trabalho neste departamento do Governo ligado à chamada Administração Central do Estado. Mais prosaicamente a chamada “Regência”.

  1. Os Serviços Florestais de Mira integravam a rede dos departamentos da Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, ligada, ao tempo, ao Ministério da Economia. Administrativamente, os Serviços Florestais dividiam-se em Circunscrições Florestais e em Administrações Florestais. Mira era a oitava Administração da segunda Circunscrição (Coimbra).
  2. A submissão dos terrenos camarários de Mira, incultos, e que de Norte para Sul contemplavam o extenso areal entre os Municípios de Vagos, a Norte e Cantanhede, a Sul, até à Murtinheira, já no concelho da Figueira da Foz, foi oficializada pelos anos dezoito do Século XX (1918), no domínio político da Primeira Republica. Instituía-se que o Estado (Administração Central) assumia a florestação, com a prévia fixação das areias móveis e correção torrencial da extensa área em causa, por forma a garantir a fixação das areias que formavam as dunas, em constante mutação ao sabor dos ventos que ainda hoje sopram com intensidade dos quadrantes Sudoeste e Noroeste. A contrapartida (económica) foi a da divisão das futuras receitas da exploração (entenda-se, a venda da produção florestal da matéria arbustiva), na proporção de 40% para o Estado e 60% para o Município. 

Exceptuava-se, nestes princípios, o caso dos Pinhais já existentes, adultos, com mais de quarenta anos de existência: Pinhal do Fojo, Pinhal da Gândara de Portomar, Pinhal Sul e Norte da Videira e Pinhal das Castinhas (de Norte para Sul). Nestes, a divisão das receitas era de 80% para a Autarquia e 20% para o Estado.

  1. Existem documentos – e até fotografias, da saga que foi a constituição dos primeiros povoamentos (da origem) da fixação das areias móveis que se estendiam, de Norte a Sul, entre os povoados do Poço da Cruz, Areão, Praia de Mira, Videira, Lagoa e Ermida, Caniceira, Praia da Tocha e Quiaios, até ao Cabo Mondego.

Em Mira, começou-se pela instalação de uma paliçada em tábuas de madeira, que fixou as areias e constituiu a chamada ante-duna do litoral, que consolidou uma primeira barreira entre o mar e a terra, desde o Norte do povoado, onde tinham sido edificadas as primeiras habitações dos pescadores, os denominados “palheiros” (casas de madeira assentes em estacas, como as palafitas) até ao Lago da Beira Mar, que actualmente limita os Parques de Campismo, Municipal e da Orbitur. 

    1. Depois, para o interior, estabeleceram-se as sementeiras de penisco (pinus pinaster), protegidas da erosão por cordões de enfeixados –  e que protegiam as sementes até germinarem e se fixarem no solo arenoso.
    2. Mas as águas, nesse tempo, corriam livremente pela planície e acomodavam-se nas zonas mais baixas, formando lagoas: a Lagoa de Cima (actual Lagoa) e a Lagoa de Baixo (Barrinha).
    3. Essas águas provinham, em larga escala, do Norte, desde os limites dos Carapelhos e Seixo, passando por Portomar.  E do Sul, limites da Ermida, provenientes dos Olhos da Fervença, que iam conformar a chamada Vala Real, que vai depositar as suas águas na Lagoa de Baixo, passando pelas Castinhas, Calvela e Casal de São Tomé.
    4. Com a instalação dos povoamentos de pinheiro bravo, foram associadas sementes de plantas para a área sub-arbustiva (plantas de médio porte, normalmente folhosas, (*) que ajudavam na protecção dos pinheiros até ao seu crescimento adulto.
    5. Havia agora a necessidade de proceder ao controlo das águas que livremente se espraiavam na paisagem, desde os limites urbanos do concelho até ao mar e que podiam colocar em risco todo o trabalho já realizado. 
    6. Passou-se então à fase da Correcção Torrencial: A Vala Regente Rei,( em homenagem ao primeiro Técnico que assumiu o comando dos Serviços Florestais em Mira),  que capturou as águas provenientes do Norte do Concelho (Carapelhos, Seixo, Cabeço, Portomar) e a Vala da Cana, que disponibilizava as águas provenientes dos Olhos da Fervença até à Lagoa de Baixo (actual Lagoa) e alimentava os Moinhos da Videira Sul, antes de entrar na Lagoa da Barrinha.
  • Seguidamente, passou-se à fase da instalação das outras infra-estruturas, como a rede dos Caminhos Florestais e das Casas da Guarda.

Mas esses são assuntos para a próxima edição, ok?

NOTAS: * As plantas chamadas folhosas diferem dos pinheiros (pinus pinea, pinus pinaster), que são plantas resinosas (a seiva é resina). 

Luís Augusto Isidoro. Licenciado em História.

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