A proximidade com aqueles que gostamos é essencial para o nosso bem-estar. E o nosso bem-estar é essencial para a nossa felicidade.
Parece uma questão muito simples.
De facto, cada um de nós tem a perceção de que no seu espaço pessoal próximo só deverá estar quem gostamos. E aqueles que gostamos não só devem estar próximos como esse encontro e afirmação deve ser confirmado mutuamente através de um ritual. Existem vários rituais confirmadores, mas um há que é especialmente benfazejo: o abraço!
O abraço é a assunção da nossa proximidade.
Um abraço é a confirmação da partilha de afetos, a garantia da presença de alguém especial. É ainda a garantia da vontade de poder contar com a aliança de alguém relevante, funcionando como o reforço de amistosidade antiga ou futura, bem como a confirmação de querer contar com o outro na vida.
O abraço é um gesto muito antigo, constituindo-se como um dos mais antigos e poderosos rituais de confirmação de aceitação, de proximidade emocional e social. Socialmente, quando vimos alguém abraçar-se confirmamos a amizade entre os abraçantes e sentimos a sua influência pacificadora em todos os que testemunham tão relevante evento.
Um abraço tem enorme efeitos no nosso bem-estar. Quando abraçamos alguém, produz-se, no nosso corpo, a libertação de um conjunto de endorfinas, hormonas, que reduzem a nossa tensão física, aliviam o stress e confirmam a nossa tranquilidade.
São muitas as vantagens de abraçar. A proximidade de quem gostamos ou temos prazer em reencontrar faz-nos sentir bem e esse sentir bem traz-nos saúde e prolonga o nosso equilíbrio físico e emocional. Reforça a nossa confiança nos outros e na sua aceitação. Aumenta a nossa sensação de conforto com a vida e a aliança de proximidade e proteção mútua com aqueles que abraçamos e mesmo com aqueles que testemunham o nosso abraço. Sendo estes igualmente influenciados pelos benefícios do abraço.
Os abraços cultivam a paciência, melhoram o nosso desempenho social, sincronizam-nos com a possibilidade do outro e tornam-nos disponíveis para escutar e pensar outros pontos de vista, tornando o nosso pensamento mais complexo. Mas a paciência resulta também do tempo suspenso no encontro do abraço e da paragem suspensiva do andar na voragem do viajar por entre a floresta de afazeres.
Abraçar é a partilha de dois espaços próximos: o nosso e o do outro que abraçamos. É a confirmação de apreço e de confiança. É a retoma de laços interrompidos pelo tempo, ainda que curto, de separação.
Abraçar faz bem à saúde física e mental e melhora o nosso desempenho social. Torna-nos mais felizes e melhora o humor que por sua vez torna a vida mais esperançosa. Abraçar é tão importante como rir, já que é outra atividade feita no encontro e partilha, que ajuda a relaxar e a suavizar as tensões ao mesmo tempo que aproxima, sincroniza e torna afetuosos os encontros.
Os abraços são também uma excelente prevenção contra a tristeza, a solidão, o desamparo e a depressão.
Abraçar ajuda a acreditar e confiar nos outros, porque quem abraça aceita ser aceite pelo outro e confirma-se nessa aceitação. O abraço é sempre extraordinário porque quando damos, um abraço, recebemos, um abraço. E o abraço que recebemos de volta é já a dupla dádiva do abraço que demos ao outro.
Quando recebemos um abraço retornamos ao encontro da nossa memória e sensações dos primeiros abraços de bebé e da infância. O abraço é sempre amparo, segurança, carinho, afeto, proteção, envolvimento, aliança, conforto e a garantia que não estamos sós nas agruras da vida. Mas é também a garantia de que, juntos, iremos mais além com todos os que nos acolhem e se deixam acolher por nós. Ajuda por isso a reduzir substancialmente a ansiedade.
O abraço tem também socialmente enorme impacto. Afasta as desconfianças, combate os discursos de ódio, alimenta e constrói as pontes de solução, exemplifica os caminhos da concórdia, da fraternidade, da solidariedade, da caridade (no sentido de amor original- caritas).
Um abraço é um enorme bálsamo que resolve um mau dia, alimenta de luz um dia cinzento, melhora um dia funcional e acrescenta alegria a um dia já feliz.
Para sua felicidade abrace e, como por magia, receba um infinito de benfeitorias.
Soto de Cangas D’Onis, Picos da Europa, maio de 2022
José Carlos Garrucho. Psicólogo. Psicoterapeuta. Terapeuta Familiar e de Casal na empresa José Carlos Garrucho – Clínica Psicológica e Psicoterapêutica. Formador e Supervisor na Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar.