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OPINIÃO: MIL E UMA FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO E INFELICIDADE

Opiniao

É muito comum pensar-se na discriminação com base no género, na cor da pele e na etnia. Ignorando-se muitas outras formas de discriminação, também profundamente nocivas, infelicitárias. Há a discriminação diante diferentes “classes sociais”, diante diferentes países, diante diferentes tipos de gostos estéticos, diante diferentes ideologias políticas e sociais, diante diferentes formas de espiritualidade, etc. Todos os dias milhões de pessoas menosprezam outras pessoas, entram em conflito com outras pessoas, simplesmente por as outras pessoas serem diferentes. O problema base, radical, é a incapacidade, a falta de vontade, de se aceitar a diferença, que simplesmente só é diferença. Assim, de forma formal, independentemente dos conteúdos, das características em particular e específico. 

Quantas pessoas discriminam outras por causa do carro que conduzem? Aquilo que deveria ser em primeiro lugar um meio de transporte, numa sociedade onde existe muito preconceito e discriminação, e competição, acaba por ser um “símbolo de estatuto social”. Acaba por ser mais um meio de discriminação. Quantas pessoas compram carros que não conseguem sustentar, endividando-se e perdendo verdadeira qualidade de vida, só porque querem sentir-se valorizadas socialmente?  Só porque não se querem sentir discriminadas socialmente. Porque de facto essa discriminação existe. Acaba por ser também um problema individual, relativo à falta de autoestima, mas também precisa de ser repensado como um problema social. Quantas pessoas querem saber de que família é determinada pessoa, que carro conduz e que emprego tem, antes de decidirem se vale a pena cumprimentar na rua ou estabelecer qualquer tipo de vínculo? Pois. Isto é uma forma de discriminação. Quantas vezes se julga outra pessoa com base na roupa que poderá estar a usar no momento? Quantas vezes se discrimina outra pessoa só porque ouve estilos musicais diferentes? Por exemplo, quem ouve música clássica ou alternativa, diante quem ouve música pimba, popular. E vice-versa. Há muitas formas de discriminação, profundamente nocivas para a felicidade das pessoas, e que são praticadas todos os dias, até por pessoas que não se consideram preconceituosas, só porque não são racistas. 

Quantas pessoas passam por outras na rua, e fazem questão de olhar para as zonas da roupa onde costuma mostrar os símbolos das marcas? Inconscientemente, para saberem se são pessoas de “posses” ou não. A mesma pessoa entrando em estabelecimentos comerciais, de blazer, fato e gravata, ou com fato de treino, muitas vezes é tratada de forma muito diferente. Quando a única coisa que mudou é a indumentária.  A pessoa é a mesma. Ridículo e profundamente ignorante, mas é verdade. Milhões de pessoas são discriminadas por causa das roupas que estão a usar no momento, todos os dias. Todos estes tipos de discriminação social, de pequenas-grandes discriminações sociais, acabam por gerar muita infelicidade. Pois no meio de tantas aparências, no meio de tantos jogos de aparências, as pessoas não se amam, as pessoas não se realizam, as pessoas usam-se, as pessoas julgam-se, as pessoas menosprezam-se. 

Quantas vezes se descrimina outra pessoa só porque se sabe, ou se imagina, que pertence à “classe operária”, e até, só porque se sabe que pertence à “classe patronal”? Pois, há ricos que desprezam os pobres só porque são pobres, e pobres que desprezam os ricos só porque são ricos. De forma preconceituosa. Por mil e uma razões. E cada caso é um caso. 

Já vi “engravatados” a discriminar pessoas com rastas só porque tinham rastas. E pessoas com rastas e uma roupa “alternativa” a discriminar pessoas com roupas mais formais, só porque usavam roupas mais formais. De formas profundamente preconceituosas. Colocando rótulos em cima de pessoas só por causa da aparência. Num caminho em que todos se discriminam preconceituosamente, não há espaço para o amor, para a felicidade. Todos os dias milhões de pessoas discriminam preconceituosamente por mil e uma razões. Mesmo que de forma indireta e inconsciente. 

Quantas pessoas discriminam outras só porque moram em sítios diferentes, ou só porque têm clubes diferentes? E quantas pessoas discriminam outras só porque têm orientações sexuais diferentes, ou só porque se alimentam de forma diferente? Quantas pessoas discriminam outras só porque têm cargos mais “elevados” na empresa em que trabalham? Outro pormenor muito importante: as pessoas discriminam-se umas às outras só porque são diferentes, não haverão de discriminar os animais de outras espécies? Há uma insensibilidade generalizada. Uma falta de amor, de empatia e simpatia, generalizadas. E por causa disso há uma infelicidade generalizada. Enquanto não aprendermos a amarmo-nos uns aos outros de forma incondicional, não poderemos esperar uma felicidade generalizada no mundo. Pois o julgamento e a discriminação preconceituosa separam-nos, e separados não vamos a lugar nenhum felicitário. 



Capítulo da obra “Reflexões filosóficas sobre a felicidade Todos os Volumes” (Chiado Books, 2021). Autor Filipe Calhau.

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Canal de Filosofia no YouTube: https://www.youtube.com/c/FilipeFerroCalhau/videos

No spotify (podcast): 

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Filipe Calhau é natural de São João da Madeira e residente com raízes familiares em Vagos. É licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra. É consultor filosófico. É ativista filosófico e para uma pedagogia da felicidade. Membro da APAEF – Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico, onde dá formação certificada em Individualogia. Foi conferencista na 5ª edição do Seminário de Estudos sobre a Felicidade, com o tema: “Ética a Nicómaco”, realizado na Universidade Católica Portuguesa a 29 de maio de 2019. Investigador integrado no projeto “Perspetivas sobre a felicidade”, Contributos para Portugal no WHR (ONU). Tem um canal de filosofia no YouTube e várias obras publicadas na área (18 obras ao todo, publicadas em Portugal e no Brasil).

 

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