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OPINIÃO: FILOSOFIA FELICITÁRIA

Opiniao

Eu acredito que há uma grande relação entre a filosofia e a felicidade. Eu acredito que deve haver uma grande relação entre a filosofia e a felicidade. Eu acredito que tem havido sempre uma grande relação entre a filosofia e a felicidade. Se enquadramos tanto o axioma da filosofia budista, uma das quatro nobres verdades, “a causa do sofrimento é a ignorância”, com a etimologia (mas também verdadeira practicidade) da palavra filosofia, que significa “amar a sabedoria”, poderemos perceber porque é que falo na grande relação entre a filosofia e a felicidade. Claro que resolver a ignorância por si só não resolve o problema da infelicidade. Claro que amar a sabedoria e procurá-la, por si só, não resolve o problema da infelicidade. Pois não se trata apenas da resolução da ignorância e da busca da sabedoria, assim, simplesmente, formalmente, trata-se também do conteúdo, trata-se também do tipo de ignorância que precisa de ser resolvido, e do tipo de sabedoria que precisa de ser procurado. 

Há pessoas que dedicam a vida toda a tentar resolver o problema da ignorância, e a procurar sabedoria, mas que, no entanto, não se tornam crescentemente mais felizes. A felicidade precisa que se resolva um tipo específico de ignorância, e que se procure um tipo específico de sabedoria. Pode até haver um problema acrescido. Poderão estar a dedicar tempo em demasia num caminho, possivelmente infelicitário, perdendo energia e tempo para apostar num caminho que poderia ser mais felicitário. Seja como for, qualquer caminho felicitário, precisa de envolver a resolução da ignorância, e a busca da sabedoria, no enquadramento da autoconsciência. A felicidade, entre outras razões, é uma questão essencial de filosofia de vida, que nunca poderá ignorar o autoconhecimento. Portanto, para a felicidade, é preciso “amar a sabedoria”, com um “conhece-te a ti mesmo”, e um “não te ignores a ti mesmo”, visto na positiva e na negativa. 

A felicidade precisa de uma filosofia de vida felicitária, intimamente ligada a uma filosofia que desenvolva o autoconhecimento. Promovendo a verdade, desconstruindo as ilusões. Pois, quem precisa de se conhecer a si mesmo, é também quem poderá ter de perder a ilusão que tem acerca de si mesmo. A conquista da felicidade, é o caminho em que se precisa de descobrir a verdade que se é, mas também é o caminho em que se precisa de descobrir a ilusão do que não se é. 

Não se sofre apenas por não se saber o que se é animicamente, também se sofre por se acreditar que se é aquilo que não se é verdadeiramente. Entre a consciência da verdade e a consciência da ilusão, a filosofia tem um papel central. Assim como a ciência. Para a felicidade, precisamos de uma atenção especial diante a verdade, mas também diante a ilusão. Há pessoas que pensam que sabem o que são, mas como o que pensam é ilusão, sofrem bastante com isso. Mas como não admitem a possibilidade de poder ser ilusão, sofrem bastante com isso. Aqui deve entrar a filosofia, a filosofia da consciência, a filosofia aplicada, com a sua missão de desconstruir as ilusões, os apegos e bloqueios intelectuais. Não é apenas preciso descobrir o que se é, é preciso também descobrir o que não se é. Há pessoas que pensam que são aquilo que os outros pensam que são, aquilo que os outros querem que sejam, aquilo que os outros dizem que são, aquilo que os outros impõem que sejam, aquilo que os outros aprenderam, aquilo que os outros ensinaram. Ora, uma atitude filosófica, tem de filtrar tudo isto. Tem de promover a autonomia, a independência emocional e intelectual. A autoconsciência. Aquilo que se é, é aquilo que se é. É aquilo que se precisa de descobrir. Aprendendo com as outras pessoas, mas não dependendo das outras pessoas, mas sabendo questionar e colocar em causa. A filosofia e a ciência devem ser o grande elo de ligação entre o sujeito e a verdade, e a verdade acerca de si mesmo. Numa verdade que deve começar e acabar dentro de si. No melhor sentido possível do termo. 

Se queremos ser felizes, devemos procurar uma filosofia de vida felicitária. Que será sempre uma filosofia aplicada à consciência e felicidade. Uma filosofia que liberte, nunca que aprisiona. Uma filosofia que demonstre as próprias prisões, e que oriente na própria libertação. Uma libertação só possível através de um processo profundo de autoconsciência. Uma filosofia em que, o “felicitário” e o “autoconsciente”, sejam quase a mesma coisa. 



Capítulo da obra “Reflexões filosóficas sobre a felicidade Todos os Volumes” (Chiado Books, 2021). Autor Filipe Calhau.

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Canal de Filosofia no YouTube: https://www.youtube.com/c/FilipeFerroCalhau/videos

Filipe Calhau é natural de São João da Madeira e residente com raízes familiares em Vagos. É licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra. É consultor filosófico. É ativista filosófico e para uma pedagogia da felicidade. Membro da APAEF – Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico, onde dá formação certificada em Individualogia. Foi conferencista na 5ª edição do Seminário de Estudos sobre a Felicidade, com o tema: “Ética a Nicómaco”, realizado na Universidade Católica Portuguesa a 29 de maio de 2019. Investigador integrado no projeto “Perspetivas sobre a felicidade”, Contributos para Portugal no WHR (ONU). Tem um canal de filosofia no YouTube e várias obras publicadas na área (18 obras ao todo, publicadas em Portugal e no Brasil).

 

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