A felicidade é muito importante para as organizações. Para as associações, instituições, projetos e empresas. Seja o que for que envolva as pessoas, a colaboração das pessoas, o trabalho das pessoas. A cooperação das pessoas. Uma organização é uma extensão das pessoas que nela participam, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente. Uma associação é como se fosse um organismo vivo. Em que todas as partes importam, em que todos os órgãos importam, em que todas as células importam. O mau funcionamento de uma das partes, influencia negativamente todas as outras. É como se fosse um veneno, um cancro, que se propaga.
A felicidade no trabalho, seja para público ou privado, remunerado ou não-remunerado, eleva naturalmente a energia da pessoa, o que faz com que se torne naturalmente mais produtiva. Pois tem mais energia para o ser. Para o fazer. Uma pessoa insatisfeita com o seu trabalho, e ainda mais, ganhando um mau salário para o efeito, por exemplo, é meio caminho andado para se tornar menos produtiva, para entrar em colapso, e assim contribuindo para o colapso da empresa, direta ou indiretamente, a médio ou longo prazo. Pois uma pessoa infeliz, extende a sua infelicidade para os outros, mesmo que de forma indireta e inconsciente, o que acaba por abalar o todo. Os dirigentes das organizações têm de perceber que a felicidade dos colaboradores importa, em todas as dimensões. Não interessa apenas que executem o trabalho que têm como dever. Todos os outros fatores importam. Como o bem-estar no local de trabalho, a satisfação e realização, a boa convivência. Uma pessoa que não faz aquilo que gosta, numa organização, sentindo-se frustrada por causa disso, acabará por a minar, mesmo que de forma indireta e inconsciente. Quando uma pessoa não se encontra feliz com aquilo que faz, prejudica-se a si mesma e à organização em que possa ser colaboradora. Em qualquer posição que ocupe hierarquicamente.
Conheço pessoas que se despediram do local de trabalho por causa do mau ambiente entre os colaboradores. Por causa de maus chefes e de maus patrões. Maus no sentido da incompetência, da austeridade, da falta de compreensão, da falta de capacidade para argumentar, compreender e mediar interesses e conflitos, e de assertividade. A maioria dessas pessoas até tinha um ordenado razoável. O que não chega, obviamente.
A paz no local de trabalho é um fator muito importante. A paz e a perspetiva de crescimento. Estou a falar de pessoas que fazem aquilo que gostam, que fazem aquilo para o qual estudaram academicamente. Claro que o fator remuneração importa, e fazer-se aquilo que se gosta também, mas há também as outras dimensões da vida humana. Temos de compreender que não existe separação entre pessoa e “trabalhador”. Entre a dimensão pessoal e a dimensão profissional. Estão todas profundamente ligadas. Este é o grande erro de muitos “gestores de pessoas”. Gerir uma organização, antes de mais, implica a gestão de pessoas, de colaboradores. Implica a gestão da felicidade das pessoas no local de trabalho. Deve implicar. É também uma questão ética. As Organizações existem por causa das pessoas. Direta ou indiretamente. Existem com as pessoas. Seja no setor público ou privado. Uma empresa entra em colapso, entre outras razões, quando as pessoas dessa mesma empresa entram em colapso. Temos de ter isto em atenção. Gerir uma organização de maneira aos colaboradores entrarem em colapso, por trabalharem de mais, e com pouca qualidade, entre outras razões, é meio caminho andado para levar a organização ao colapso. No setor privado, em que é importante o lucro, pensar apenas no lucro, exigindo demais dos colaboradores, poderá levar os colaboradores ao colapso, (e se há colapso haverá certamente infelicidade), o que poderá levar ao colapso da empresa, a médio-longo prazo. Não se pode pensar apenas no lucro a curto prazo. Se os colaboradores entrarem num ritmo de trabalho stressante, a curto prazo a produtividade poderá gerar mais lucro, mas a médio-longo prazo poderão entrar em colapso, perdendo a saúde, o que acabará por se tornar um peso para a empresa. E o possível colapso da mesma. Portanto saem todos a perder. A entidade patronal (por causa da perda de lucro, e do hipotético sentimento de compaixão diante os problemas de saúde causados aos colaboradores) e os colaboradores (que simplesmente perderam a saúde). Existindo naturalmente uma perda da felicidade por todas as partes. Por isso é que é tão importante a felicidade nas organizações. E gestores da felicidade nas mesmas. Todos os fatores importam, todos os colaboradores importam, para o bem de todos. Tanto para o setor público como para o setor privado. Remunerado ou não-remunerado.
Capítulo da obra “Reflexões filosóficas sobre a felicidade Todos os Volumes” (Chiado Books, 2021). Autor Filipe Calhau.
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Canal de Filosofia no YouTube: https://www.youtube.com/c/FilipeFerroCalhau/videos
Filipe Calhau é natural de São João da Madeira e residente com raízes familiares em Vagos. É licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra. É consultor filosófico. É ativista filosófico e para uma pedagogia da felicidade. Membro da APAEF – Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico, onde dá formação certificada em Individualogia. Foi conferencista na 5ª edição do Seminário de Estudos sobre a Felicidade, com o tema: “Ética a Nicómaco”, realizado na Universidade Católica Portuguesa a 29 de maio de 2019. Investigador integrado no projeto “Perspetivas sobre a felicidade”, Contributos para Portugal no WHR (ONU). Tem um canal de filosofia no YouTube e várias obras publicadas na área (18 obras ao todo, publicadas em Portugal e no Brasil).