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OPINIÃO: A PROBLEMÁTICA DO SANEAMENTO EM MIRA

Opiniao

A nossa Gândara estende-se das lagoas do Covão do Lobo e Vilamar até às praias do Poço da Cruz e Praia de Mira. É uma região moldada pelos nossos antepassados que dominaram os recursos hídricos e plantaram a floresta. Podemos dizer que tal como o holandês fez a Holanda (leia-se Países Baixos) o gandarês fez a Gândara.

Hoje a floresta e os recursos hídricos encontram-se em risco de rutura e com ameaças várias: humanas, climáticas, económicas, etc… Mas vou-me focar nos recursos hídricos e mais concretamente na problemática questão do saneamento. Como sabemos a cobertura de saneamento no concelho de Mira é baixa e com poucas perspetivas de alargamento. O Plano de Atividades e Orçamento da ABMG para 2023 contempla muito poucas obras no concelho. A ligação em alta do saneamento, recentemente construído, na freguesia do Seixo e Zona Industrial (Ligações “alta”/ “baixa” em Mira – Zona Norte) ainda está em fase de adjudicação.

No entanto a limitada cobertura de saneamento no concelho é um dos problemas. O outro problema, e que é mais grave para os recursos hídricos, são as constantes descargas de efluentes. 

A rede de saneamento que serve o concelho de Mira teve o seu início nos anos 80, creio eu, do século XX. O concelho entrou na SIMRIA (Saneamento integrado dos Municípios da Ria de Aveiro) no ano de 1997 ligando a rede de Mira à ETAR Sul em Ílhavo, construída em 2002. Entretanto em 2009, com a conivência dos órgãos autárquicos eleitos em Mira, o concelho de Cantanhede entrou também para a SIMRIA, é bom lembrar que Cantanhede já tinha uma considerável rede de saneamento doméstico e industrial. Em 2015 é constituída a AdCL (Águas do Centro Litoral) resultante da agregação da SIMRIA, SIMLIS e Águas do Mondego. A partir de 2016 com o crescimento da rede de saneamento em Cantanhede as ruturas e descargas nos recursos hídricos mirenses começam a ser constantes. Por volta de 2018 começa a ser estuda e proposta a construção de uma ETAR nas Cochadas. Esta tratará exclusivamente os efluentes de Cantanhede deixando de sobrecarregar a rede de Mira e a ETAR Sul de Ílhavo. 

A ETAR das Cochadas entrará em funcionamento experimental na melhor das hipóteses em 2024. Segundo o executivo mirense, e os representantes da ACL, é uma ETAR de terceira geração com tratamento de azoto e fósforo (remoção de nitratos e fosfatos), desinfeção biológica por ultravioletas e filtragem por membranas. 

Importa também referir que o Município de Mira têm assento na AdCL e que a futura ETAR das Cochadas irá tratar de um volume de efluentes bastante considerável, no entanto pode não resolver os problemas do concelho de Mira. Também é bom referir que embora o volume de tratamento de efluentes seja bastante grande em caso de emergência o resultado será sempre o mesmo, DESCARGA DIRETA para as linhas de água. Esta ETAR irá tratar EXCLUSIVAMENTE efluentes do concelho de Cantanhede, no entanto existem nove ETAR ativas, basta consultar o site da INOVA, que não estão ligadas ao sistema da AdCL: Praia da Tocha (segunda geração); Outil (terceira geração); Ançã (terceira geração); Porto de Carros (segunda geração); Murtede (terceira geração); Sepins (terceira geração); Covões Norte (segunda geração com desinfeção); Covões Sul (segunda geração) e Corticeiro de Cima (segunda geração). Algumas destas ETAR são obsoletas (a do Corticeiro de Cima faz descargas para a Vala Velha a 50 metros do concelho de Mira). Estas nove ETAR tratam um volume anual de 733 000 metros cúbicos ano. Ninguém nos garante que todas, ou parte delas, não se venham a ligar ao sistema da ACL daqui a alguns anos e voltamos a ter o mesmo problema.

Deixo agora apenas uma nota pessoal, como sabem vivi e trabalhei entre estes três concelhos Vagos, Mira e Cantanhede. Em meados de 2006 tomei a decisão de residir no concelho de Mira com a perspetiva do nascimento do meu segundo filho, neste caso uma filha. Por volta de 2008 vivia numa casa de familiares no concelho de Vagos que se ligou, por volta desse ano, à rede pública de saneamento. Na altura estava a construir a minha moradia e pensei que o mesmo aconteceria em Mira. Como estava enganado…

Augusto Louro Miranda

Membro da Assembleia Municipal de Mira eleito pelo Partido CHEGA

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