Desde há uns meses que a luta dos professores portugueses anda na boca do mundo, com a adesão da população como nunca antes acontecera. Explicações para tal são diversas e os motivos também, tendo a fórmula 6A 6M 23D passado a ser compreendida por uma boa parte da população.
Para quem priva de perto com professores, sabe que há mais de uma dezena de anos que a vida dos professores é um autêntico inferno, enredados numa teia de burocracia e papelada sem sentido. Grande parte do tempo destinado à preparação de aulas, ao estudo, à investigação de métodos que propiciem uma melhor prática pedagógica foi substituído e pervertido com o preenchimento de grelhas, de plataformas, de formulários… que servem apenas para dar ares de rigor e eficácia, acalmar consciências e mostrar serviço em conferências ou auditórios “para inglês ver”. As métricas substituíram a relação emocional e pedagógica professor/aluno. O fosso entre eles aprofundou-se e a escola passou a ser um local em que a alegria e felicidade são escassas. Claro que não quero deixar de valorizar o que de fantástico se continua a fazer nas escolas, lugares privilegiados de conhecimento e de aprendizagem, mas não vale fazer de conta que a burocracia não veio subverter as relações no interior da escola.
No jornal “Público” de hoje surge-nos na página 13, na secção Sociedade um artigo assinado por Clara Viana com o título “Professores estão contra multiplicação das grelhas de avaliação”. No artigo lê-se logo no início “Petição exige fim do projeto MAIA, que origina grelhas de avaliação que “chegam a ocupar duas a três páginas A4” por aluno”. Não admira que apenas em 4 dias os peticionários tenham conseguido 8400 assinaturas, de modo que mais esta petição tenha direito a apreciação em plenário na Assembleia da República. Pela leitura da notícia, este projeto que começou a ser aplicado nas escolas desde 2019 é um autêntico quebra-cabeças que absorve horas e horas de trabalho e que, segundo Dália Aparício, a professora de Matemática na Escola Secundária de Viriato em Viseu que lançou a petição, criou “muito desânimo”, porque os professores aplicam o projeto mas não acreditam nele.
Muitas razões, muitas mesmo estão na base do levantamento dos professores em greves, vigílias e expressivas manifestações. Ao cansaço e desânimo pelos atropelos aos seus direitos profissionais e laborais acresce a exaustão por todo um aparato de burocracia sem sentido que lhes vem sendo imposto e a que os professores querem pôr um ponto final.
Com luta, sem dúvida.
Almerinda Bento
Professora aposentada, feminista, sindicalista