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MEALHADA CELEBRA 25 DE ABRIL ALERTANDO PARA AS AMEAÇAS À DEMOCRACIA

DO OUTRO LADO

As comemorações do 25 de Abril, na Mealhada, foram um misto do relembrar das dificuldades da ditadura e do alertar para as ameaças à democracia. A sessão ficou ainda marcada pelas palavras emocionadas do presidente da Assembleia Municipal, Carlos Cabral, que recordou, enquanto combatente, a guerra e que pediu “respeito” ao Governo para o povo português.

Carlos Cabral, presidente da Assembleia Municipal da Mealhada, foi o último a falar e o que mais emocionou a sala. “Estamos cá, cada vez menos, os que se viram obrigados a participar numa guerra. Foram momentos terríveis. Não vi ninguém defender a Pátria na Guerra Colonial. Defendíamo-nos uns aos outros.  Sentimos, como ninguém o 25 de abril”, afirmou.

E não se escusou a dirigir algumas palavras ao Governo. “Nem sempre poder central respeita poder local. Espero que o Governo entenda que tem que trabalhar no sentido de dar ao país o que precisa e não se perca em faltas de respeito à população, que tantas vezes vemos”, concluiu Carlos Cabral.

Já António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, assumiu os valores de Abril para o futuro do concelho. “Com a Revolução, vivemos uma mudança cultural e social, pudemos finalmente assumir identidade e cultura sem medo de represálias. É nossa responsabilidade continuar a lutar pela liberdade, igualdade e justiça. Construir um concelho mais justo e próspero onde todos os cidadãos tenham as mesmas oportunidades e os mesmo direitos. Celebramos o 25 de Abril e renovamos os valores que lhe são inerentes.

Das forças políticas presentes da Assembleia Municipal, as mensagens foram um misto de recordar os difíceis anos de ditadura, das conquistas que a Revolução trouxe e das ameaças à democracia.

João Louceiro, do PCP, saudou militares e povo, e vincou “a necessidade de manter viva a história do que foi fascismo. É preciso combater insistentes tentativas de branquear o que foi o fascismo em Portugal, que torturou, perseguiu, matou (…) e condenou o povo à pobreza”, afirmou, referindo que a Revolução significará democracia política, económica, social e cultural e “tem que ter sempre presente a legítima aspiração do povo a uma vida melhor”.

Pedro Semedo, da coligação Juntos pelo Concelho da Mealhada, chamou a atenção de que “cumprir abril é sempre uma tarefa aberta”. Sublinhou a liberdade conquistada, de expressão, de participação de igualdade, mas reiterou a necessidade de a preservar dos seus inimigos, “sejam os tiranos e ditadores ou os novos polícias do pensamento e da linguagem, que vão condicionando o pensamento e a liberdade de ação”. E prestou homenagem “aos que têm a coragem de defender a liberdade, dos que se deixam prender por exibirem uma simples folha de papel”.

João Silva, Partido Socialista, não poupou nas palavras afirmando que “ditadura matou dezenas de milhares de pessoas”, “pela guerra e pela fome” e que “Salazar votou o povo ao trabalho miserável, forçado”, “fez do Estado um bando armado contra a população, que esmagava e assassinava opositores”. Ressalvou papel de criador do PS, prestando homenagem a Mário Soares, António Almeida Santos, Maria de Lurdes Pintassilgo, Jorge Sampaio, António Guterres, António Arnauth e a Rui Nabeiro.

André Melo, do Movimento Independente Mais e Melhor, apresentou uma visão muito crítica do estado atual da democracia portuguesa. “Continuamos a ver as nomeações de carater exclusivamente político (…) onde a decisão não defende o interesse do povo. A burocracia partidária apropriou-se do poder e, com a sua mediocridade, insiste em expulsar a ideologia, a ética república e até as leis da democracia”, referiu, afirmando a degradação dos serviços públicos: educação, saúde, justiça.

As Sessão solene da Assembleia Municipal foi precedida das cerimónias que contaram com a participação a Guarda de Honra Bombeiros da Mealhada e da Pampilhosa, o Hino Nacional Filarmónica Pampilhosense, a Largada de Pombos, pelo Grupo Columbófilo da Mealhada e de Barcouço e com a deposição de coroa de cravos ao Monumento aos mortos em combate. Contou ainda com as atuações do Coro da Oficina de Música da EB2 da Mealhada, do grupo “L’Echo des Avens” (Millau – França) e da declamação de um poema de Paulino Mota Tavares, por José Machado Lopes.

 

Exposição Bandeiras para a Liberdade

Até 20 de maio, está patente, nas ruas e na Biblioteca Municipal da Mealhada, a exposição “Bandeiras Para a Liberdade”, iniciativa que marca o início das comemorações dos 50 anos. A exposição retrata histórias reais de residentes do município da Mealhada, ex-combatentes com as suas experiências num período doloroso da ditadura. “Cada bandeira tem uma história para contar, um pedaço da nossa história coletiva. E, ao conhecer essas histórias, podemos ligarmo-nos ainda mais com a nossa identidade enquanto povo e nação”, sublinha Sheila Rocha, criadora da mesma.

Tem ainda uma vertente tecnológica traduzida na realidade aumentada, criando é uma experiência única para os visitantes. Algumas bandeiras expostas escondem um vídeo que pode ser visualizado através de uma aplicação gratuita e o uso do smartphone. Ao fazer o download da app e apontar a camera do dispositivo para as imagens, os visitantes são levados para uma experiência em realidade aumentada, que lhes permite conhecer um pouco das histórias dos ex-combatentes da Guerra Colonial homenageados, Américo Duarte, Júlio Costa, Carlos Cabral e Mário Silva Carvalho. As fotos são de Victor Valente, José Sena Goulão, Paulo Novais, Clara Pires e Sheila Rocha.

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