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LUÍS FILIPE SARMENTO: “CELEBRAR A LIBERDADE E A DEMOCRACIA DEVERÁ SER UM EXERCÍCIO DE MEMÓRIA PARA OS QUE VIVERAM SOB A TIRANIA” 

atualidade

ESPECIAL 50 ANOS DE LIBERDADE

Luís Filipe Sarmento é escritor e tradutor. O jornalismo também está no seu caminho. Aqui, neste dia em que comemoramos 50 anos de democracia, ele falou ao nosso jornal. Não deixe de ler. 

 

O que representa para si comemorar 50 anos de Abril? 

Comemorar 50 anos da Revolução de Abril representa para mim a memória da libertação de um regime ditatorial, fascista e cleptocrata. Celebrar a Liberdade e a Democracia deverá ser um exercício de memória para os que viveram sob a tirania, mas também a defesa dessa Liberdade e Democracia, que nos são tão caras, perante os ferozes ataques de uma extrema-direita, agora institucionalizada pela ignorância e pela má-fé, que quer protagonizar a vingança contra todos os valores vencedores da revolta dos capitães. A celebração desta festa da Democracia e da Liberdade é também uma oportunidade para cimentar estes valores para que as gerações vindouras jamais passem pela experiência de uma ditadura. É nosso dever cívico evitar que as forças protofascistas da extrema-direita cheguem ao poder e reneguem à lei da força e da repressão os valores de Abril e coloquem em causa a Liberdade das gerações futuras.  

 

Como homem das letras, o que lhe trouxe o 25 de Abril? 

Quando a Revolução de Abril aconteceu, eu tinha 17 anos e tinha o meu futuro imediato marcado por uma guerra colonial, injusta e fratricida. Nessa altura, já escrevia nos jornais e sentia na pele a dificuldade para expor o meu pensamento, a minha sensibilidade, a minha opinião, a minha literatura que se iniciava então. Ao juntar-me às forças de resistência contra a tirania que sufocava Portugal, lutei para que o meu futuro fosse livre de tantas arbitrariedades que condenariam toda a minha existência enquanto repórter e escritor. Hoje, devo a todos os que de uma maneira ou de outra participaram nas lutas de décadas contra a ditadura, a Liberdade que tenho desde logo para escrever estas linhas de celebração da Democracia, mas também pela possibilidade que a Revolução me deu para seguir o que o meu sonho e a minha intuição me impunham: dedicar toda a minha, e já lá vão 50 anos, à literatura e ao pensamento.  

 

Acha que devemos lutar para reforçar Abril? 

Não só acho que devemos lutar e lutar e lutar para defender os valores de Abril, como creio que é um dever inalienável de qualquer cidadão que ame a sua liberdade e a sua existência. Defender os valores de Abril é garantir que as gerações vindouras tenham o direito à diferença e a liberdade de escolher o seu caminho desde que não afecte a Liberdade dos outros. Só em Democracia e Liberdade é que podemos viver tal como desejamos e projectamos em cada dia da nossa existência. A Liberdade é um bem comum que devemos preservar com a convicção de que sem ela estaríamos destinados à prisão e ao silêncio.     

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