Jessica Neves faz poesia, o jornalismo é parte de si e o futsal é uma realidade na sua pessoa. Veja como ela respira.
Aos 17 anos descobriste a poesia. Queres contar como tudo se passou?
A poesia surgiu na minha vida quando estava de férias do desporto que pratico, o futsal e, desde então, criei um blogue e comecei a divulgar a minha escrita. Não foi algo pensado previamente, aconteceu de forma natural e espontânea, tal como eu sou. Talvez naquela altura me faltasse alguma coisa que me preenchesse e comecei a passar para o papel o que sentia… e ao correr da pena surgiu a poesia, como um lado meu mais bonito e sensível.
O teu blogue tornou-se, digamos, numa “arma” para os teus objetivos literários. Como tem sido esse caminho?
Nunca é fácil ter um blogue de escrita, sobretudo de poesia, que é algo que não “chega” a todos os leitores, que na maioria dos casos, preferem outros géneros literários e não se sentem atraídos para ler este tipo de conteúdo, que muitas vezes se interpreta nas entrelinhas. O blogue para mim marca o início do meu trajeto literário enquanto veículo de comunicação e divulgação, mas atualmente, com as redes sociais infelizmente já poucas pessoas recorrem aos blogues, nomeadamente deste género. No entanto, estou no blogue desde 2011 e já conto com mais de 145 mil visualizações, o que sendo um conteúdo aparentemente “menos apelativo”, acaba por me orgulhar bastante e dar sentido à sua continuidade. Por outro lado, também é esse o desafio, despertar o
interesse da poesia nos leitores, uma vez que, faz parte da vida de todos nós. A poesia não está só nas palavras escritas em verso, está presente em todas as coisas, na natureza, nos gestos, nos pensamentos e nas emoções que partilhamos… Sempre fiz o meu caminho com base na intuição e na sensibilidade e assim pretendo continuar. Se é mais difícil é sinal de que o percurso vale a pena, penso que também é por isso que “ando por aqui”, para de algum modo, passar a minha mensagem e a minha motivação principal que é a paixão pela vida.
Chegaste a editar um livro. Queres explicar a dificuldade que tiveste, ou não, para chegares a essa meta?
As dificuldades prendem-se sempre com as editoras, o negócio e a (não) divulgação da obra. Eu, a minha família e alguns amigos é que fizemos a divulgação do livro, através de alguns eventos, não foi a editora. As editoras são muito comerciais e voltadas para a faturação. O autor não tem importância, desde que pague pela edição da obra e não fiquem no prejuízo, está tudo bem. Infelizmente não existe sensibilidade nem acompanhamento como se estabelece no contrato, em que se prometem mundos e fundos em termos comerciais e depois o autor que se desenrasque na publicidade e distribuição do livro. Isso foi algo que na altura, para uma jovem de 18 anos que editou um livro pela primeira vez e realizou um sonho, acabou por me magoar, mas também
me deu outra bagagem e maturidade para entender como o mercado realmente funciona, sem grandes ilusões futuras e, talvez acabe por condicionar a publicação de uma nova obra. Se publicasse agora penso que optaria por uma edição de autor, seria mais sensato e saberia melhor com o que contar.
Ao longo do tempo foste sendo reconhecida por outros poetas. Além desse reconhecimento, arrecadaste alguns prémios?
Sempre fui uma pessoa que abraçou desafios e gostou da competição e na poesia não foi diferente. Tive alguns pequenos prémios que me orgulham e que guardo com carinho, mas nada de extraordinário. São apenas uma motivação para continuar a escrever e partilhar a minha escrita com os leitores que se identificam. Não escrevo para ter reconhecimento ou prémios, nem me deslumbro e sei que é bastante complicado viver somente da escrita. Faço-o por gosto e com a sensibilidade à flor da pele, enquanto algo único, especial e íntimo para mim.
O desporto também surgiu no teu caminho. Conta lá a tua história neste setor?
Desde pequena que jogo futsal e também sempre fui ambiciosa e estive em equipas competitivas e ganhadoras, com bons grupos. Gosto de vencer e pelos clubes por onde passei, já conquistei diversos títulos e ajudei à subida de divisão. Neste momento, jogo no Clube União 1919 (União de Coimbra) que milita na segunda divisão do Campeonato Nacional de Futsal Feminino. De lamentar, a falta de apoios no desporto, sem ser no futebol, sobretudo no feminino e nas modalidades. É difícil estudar, trabalhar, treinar, ter pouco tempo livre e deixar a nossa família em prol de algo que gostamos, pois não somos profissionais nem recebemos nada por jogar, somos mulheres amadoras e é tudo por amor à camisola. É uma gestão que se faz por gosto.
A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra teve-te como aluna. És mestre em Jornalismo. Como tem sido na prática o desenvolvimento desse teu saber?
Foi gratificante para mim ter feito o Mestrado em Jornalismo e Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pois aprendi bastante e é sempre algo que nos acrescenta. Tornou-me sem dúvida, uma pessoa mais enriquecida humana e culturalmente, mais capaz no acesso ao mercado profissional e à prática da profissão nesta área.
É difícil ser jornalista em Portugal?
É complexo, mas na verdade sou mais da área da comunicação (criação de conteúdos nas redes sociais, relações-públicas, publicidade) do que propriamente do jornalismo puro e duro, portanto, não é necessariamente o meu foco.
Preocupa-te o aparecimento, cada vez mais notório, das notícias falsas?
As redes sociais nem sempre nos beneficiam nem nos trazem notícias verídicas. É uma dificuldade acrescida ao exercício da profissão e há que saber lidar e filtrar. Acompanho esta realidade com alguma atenção e ponderação. As notícias falsas preocupam-me, mas espero que os leitores também façam a devida triagem e procurem pelas fontes mais credíveis, mesmo que isso implique algum trabalho de pesquisa. Existe muito negócio em torno desta questão e muita gente a ganhar/lucrar com isto e a vender conteúdos falsos, por isso dificilmente terá fim, enquanto não existir punição…
Como vês o teu próximo futuro?
O futuro é em frente, sempre! Seguindo as minhas crenças e convicções, continuando a escrever e a partilhar a minha escrita com os amantes da poesia, independentemente de publicar ou não outra obra em breve. Não é por falta de material, que com uma boa seleção, daria seguramente para mais dois ou três livros. A vantagem da poesia é ser intemporal (algo que eu também desejaria ser).
Neste momento não é algo prioritário editar um livro, mas tenciono ir atualizando o blogue, que acaba por ser a minha casa literária e onde me refugio sempre que tenho algum conteúdo literário novo para partilhar com os leitores que me seguem. Visitem e acompanhem o meu blogue “(Sem) Papel e Caneta, (Com) Alma e Coração”! Desde já, o meu agradecimento a todos e muito obrigada pela entrevista.