Principais reações hermenêuticas a uma proposta de verdade:
Quando estamos diante uma proposta de verdade que poderá ou não ser desconfortável de aceitar, podemos reagir de três principais formas interpretativas: princípio de fuga, princípio denigrativo e princípio compreensivo.
Princípio de fuga: Quando uma proposta de verdade pode provocar algum desconforto, como por exemplo, a necessidade de admissão que se tem algum problema em específico para resolver, bem como a responsabilidade diante o mesmo, é muito comum fugir-se do mesma. Mesmo que de forma inconsciente. Fugindo-se, dessa forma, da verdade, fugindo-se, dessa forma, de alguma forma de verdade que poderia contribuir diretamente para a conquista da felicidade. Portanto fugir não é uma boa forma de nos relacionarmos com a verdade. Principalmente se essa verdade consistir numa condição de necessidade para a felicidade.
Princípio denigrativo: Quando uma proposta de verdade pode provocar algum desconforto em aceitar, como por exemplo, a denúncia de alguma incongruência no próprio sistema de crenças, ou relativamente a alguma ação praticada, é muito comum procurar-se denegrir e distorcer a mesma, de maneira a torná-la mais facilmente refutável. Realizando uma falácia do espantalho, por exemplo (em que se distorce o argumento diferente, contrário ou contraditório, para o tornar mais facilmente refutável). Este princípio é também um princípio de fuga, na medida em que também se foge da verdade, de alguma maneira. Mas implica que se lide de alguma forma com a mesma, nem que seja distorcendo-a.
Princípio compreensivo: Este é o princípio recomendável. Enquanto que no princípio de fuga e de denigração, afastamo-nos da verdade, mesmo que de forma indireta e inconsciente, ao nos afastarmos das propostas de verdade que nos aparecem, por poderem ser intelectualmente desconfortáveis, no princípio compreensivo procuramos ver e compreender a verdade, mesmo que não seja fácil aceitá-la. Temos de aprender a escolher a verdade, mesmo que não seja nada fácil aceitá-la, compreendê-la e deixar-se transformar pela mesma, pela consciência da mesma. É um princípio difícil de cumprir? Precisa de coragem e determinação? Sim. Mas é absolutamente necessário. A verdade é uma questão filosófica por excelência. Temos de tê-la em conta no nosso filosofar, no nosso exercício filosófico. Principalmente se o problema da infelicidade estiver em jogo.
Princípios fundamentais de reação a uma proposta de verdade:
Como não é fácil escolher a verdade, pois ela poderá ser difícil de aceitar, pois ela poderá ser desconfortável, há quem prefira uma ilusão mais confortável do que uma verdade desconfortável (ou simplesmente mais difícil de processar na imediatidade em que se é confrontado com a mesma). Por causa disso, mas não só, eu criei o que considero os «princípios fundamentais de reação a uma proposta de verdade», em que temos três principais reações possíveis: querer que seja falso, querer que seja verdadeiro ou querer a verdade.
Quando estamos diante uma proposta de verdade, que poderá ter a ver com a necessidade de sairmos de um estado de negação relativamente a um problema, direta ou indiretamente, o que poderá ser desconfortável, há uma grande tendência para querermos que seja falsa. O que não é bom para uma adequada relação com a verdade. Preferimos, por exemplo, que seja falsa a ideia de que temos um problema para resolver. Ao invés de querermos ver se é verdade ou não a existência desse mesmo problema, mesmo que seja desconfortável na imediatidade. Nesse sentido, “querendo a verdade”, mesmo que implique processar-se inicialmente alguma forma de dor. A desilusão pode doer, mas doi mais a infelicidade causada pela ilusão a médio-longo prazo.
Quando é que alguém quer que uma proposta de verdade seja verdadeira? Essencialmente, quando ela é confortável. Essencialmente quando ela é mais confortável do que a sua alternativa. Um alcoólatra, vendo uma notícia de que afinal o álcool poderá não fazer assim tão mal, sente-se tentado a querer que seja mesmo verdade. Ao invés de se centrar em querer saber se é mesmo verdade ou não essa notícia. Neste enquadramento teórico, costuma ser mais fácil e confortável querermos aprioristicamente que algo seja verdadeiro ou falso, ao invés de querermos profundamente a verdade, tal como é, doa o que doer. A verdade pode ser desconfortável inicialmente, mas profundamente libertadora. Neste quadro, poderão perceber de que forma é que a nossa relação com a verdade pode ser muito importante para a nossa relação com a felicidade. Principalmente diante a necessidade de resolução de problemas que nos causam a felicidade.
Retirado da obra “Reflexões filosóficas sobre a felicidade Todos os Volumes” (Chiado Books, 2021). Autor Filipe Calhau.
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Filipe Calhau é natural de São João da Madeira e residente com raízes familiares em Vagos. É licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra. É consultor filosófico. É ativista filosófico e para uma pedagogia da felicidade. Membro da APAEF – Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico, onde dá formação certificada em Individualogia. Foi conferencista na 5ª edição do Seminário de Estudos sobre a Felicidade, com o tema: “Ética a Nicómaco”, realizado na Universidade Católica Portuguesa a 29 de maio de 2019. Investigador integrado no projeto “Perspetivas sobre a felicidade”, Contributos para Portugal no WHR (ONU). Tem um canal de filosofia no YouTube e várias obras publicadas na área (18 obras ao todo, publicadas em Portugal e no Brasil).