Embora não o tenhamos presente e até nos achamos sempre em divida, perante aqueles que, de forma voluntária, se candidataram, ou aceitaram cargos ou lugares de actividade, publica, cargos que são bem remunerados. Muitos deles, nem o Salário Mínimo Nacional, (SMN)deviam auferir, apenas, por não fazem trabalho que o justifique.
Contudo, o país está cheio de ruas, praças e avenidas, com os nomes desses “ilustres”, muitos dos quais tem mérito, à que dizê-lo, mas a maioria não valem o dinheiro gasto na placa toponímica.
Há autarcas que, além de serem um empecilho ao bom funcionamento e desenvolvimento, do “ seu”concelho, dedicam-se a gozar à fartazana à custa do erário público. Fechados nos seus casulos, fazem o que bem lhes apetece, rodeados por secretários e assessores e, muito, longe dos munícipes. Parece que os seus paroquianos têm peste.
Não foi o caso de Germano Lopes Cantinho quando integrou as listas das primeiras eleições ,livres, autárquicas, de 1976. De 1976 até 1982 exerceu o cargo de vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira.
Foi um momento em que o poder local começou da estaca zero. Recordo que na Câmara não havia viaturas de serviço, engenheiros ou arquitectos, juristas e outros. A viatura de serviço, foi durante anos, o seu carro encarnado que servia para tudo. Mas havia muita vontade em dar um abanão a Cerveira.E foi dado.
Não vou enumerar nenhuma obra ,por mais importante que seja desde 1976/1989. Esse assunto não é para aqui chamado.
João Baptista Lemos Costa, foi o primeiro Presidente eleito e um grande senhor, de capacidade técnica e muita visão, mas tinha outra profissão, fora de Cerveira, o que fazia com que o seu vice estivesse sempre presente em acção.
Mas esta dupla funcionou e coabitou muito bem.
Cantinho atendia, as pessoas em qualquer lugar: na Câmara, na rua, em casa ou na sua fábrica.
E para Germano Lopes Cantinho não havia limites. A sua ambição para a sua terra, e era enorme. Esteve muito à frente do seu tempo, na criação de eventos e infra-estruturas. Numa altura em que a lei das Finanças locais era uma miragem e a CEE outra, havia que sair da porta dos município e pedinchar à porta dos ministérios para obter verbas para o que quer que fosse. E, para isso, ele nunca hesitou.
Um ex-ministro da Administração Interna, confidenciou-me em a esse respeito, em 1981: “ este homem é terrível. Ele não se faz anunciar, nem pede audiência, ou visita, ele entra pelos ministérios e pede para a sua terra o que houver, enquanto nos vai avisando. Eu estou aqui, porque fui eleito e quero levar para a minha terra aquilo que for possível. De mãos a abanar, não regresso. E tinha razão, porque( nós) os ministros não somos eleitos. Este homem pôs sempre a sua terra em primeiro lugar”.
Foi assim, também, enquanto presidente da Câmara, cargo que ocupou entre 1982/89. Foi um fazedor, um homem nada dado aos pormenores, mas antes a redesenhar a vila e a criar intra-estruturas nas freguesias.
E hoje passados 34 anos, a configuração da vila de Cerveira é a mesma. É pena, mas é esta a realidade.
Se tudo correu bem? Obviamente que não. E embora a culpa seja sua,porque era o responsável tive aos seu redor gente nada competente e pouco recomendável, que não tinha a mesma ideia que ele para o concelho, apenas e só um evidente aproveitamento.
Isto foi um bocadinho do homem que no dia 30 de Julho nos deixou.
Candemil, a 02 de Agosto de 2023
José Venade
(José Venade não segue o actual acordo ortográfico em vigor)