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FEIRA DO LIVRO DE COIMBRA AFIRMOU-SE ENQUANTO ESPAÇO DE EXERCÍCIO DE CIDADANIA

DO OUTRO LADO

Pelo segundo ano consecutivo, a Feira do Livro de Coimbra realizou-se na Praça do Comércio alinhando-se com a política de reanimação da Baixa preconizada pela Câmara Municipal (CM) de Coimbra. A edição de 2023 distinguiu-se pelo envolvimento das entidades culturais locais, colocando a tónica programática na palavra, o que contribuiu para uma programação eclética e participada, afirmando-a como um espaço de reflexão, de disseminação de conhecimento e de exercício de uma cidadania ativa, expressando-se num espaço verdadeiramente democrático em que o livro foi o ponto de partida e de chegada. Auscultados pela organização do evento, a maioria dos expositores contabilizou um aumento efetivo da venda de livros relativamente a edições anteriores da Feira. 

 

Entre 23 de junho e 2 de julho, a Feira do Livro de Coimbra realizou-se pela segunda vez na Praça do Comércio, numa assumida lógica de valorização e de estímulo, por parte da autarquia, da Baixa da cidade e de um dos seus espaços mais icónicos. Durante os dez dias de Feira deslocaram-se milhares de pessoas à Praça do Comércio, assinalando-se a heterogeneidade de públicos motivados pela programação. Destaca-se – em relação aos anos anteriores – a crescente presença de público jovem (motivado pela programação performativa) e de público proveniente de outros países de língua oficial portuguesa, residente em Coimbra, sensibilizado pelo Ciclo da Cidadania da Língua. 

 

O dispositivo espacial incluiu 40 stands (limite máximo possível para o recinto em causa) e 43 participantes (vários módulos tinham vários expositores), o evento acolheu os principais grupos editoriais nacionais, bem como editoras e representantes de menor escala e vários livreiros e alfarrabistas de Coimbra. A seleção de livros patente na Feira foi abrangente e eclética, abarcando as áreas da ficção, ensaio, crónica e poesia, sem esquecer os segmentos do livro técnico e do livro antigo. Auscultados pela organização, a esmagadora maioria dos expositores contabilizou um aumento efetivo da venda de livros relativamente a edições anteriores da Feira, mostraram agrado relativamente à comunicação e à programação associada.

 

Em 2023, a Feira do Livro apresentou uma programação com a tónica na palavra segmentando-a em vários eixos programáticos com o objetivo de ser eclética, diferenciadora, envolvente e participada. 

 

A Associação Apura – através do Ciclo Emergente – trouxe as artes de inspiração alternativa, de novos criadores de Coimbra, para um evento consolidado, contribuindo para a visibilidade do trabalho de novos artistas, chegando a um público jovem, não se esgotando nessa faixa etária.

 

O Ciclo da Cidadania da Língua – com a curadoria da Associação Portugal Brasil 200 anos – contribuiu para a criação de um espaço de reflexão através de temas fraturantes e primordiais das sociedades contemporâneas como as consequências do colonialismo, o feminismo ou a relação entre os povos, dando voz à língua portuguesa proveniente de outros países. Desta forma a Feira do Livro assumiu uma dimensão internacional por intermédio de um olhar global para a língua portuguesa. Destaca-se a presença da escritora e filósofa brasileira Djamila Ribeiro, pela primeira vez em Portugal, com a participação em dois momentos (palestra e conversa) que resultaram em dois auditórios lotados.

 

Neste ano, comemoram-se os centenários de várias personagens ímpar da cultura portuguesa. A programação da Feira do Livro assinalou vários desses centenários, desde logo de Eduardo Lourenço. O professor e filósofo português, que desenvolveu uma grande ligação com Coimbra, foi homenageado com a obra de arte urbana da artista Aheneah, patente na Praça do Comércio, comprovando a abrangência artística da programação através das artes visuais. Este projeto – que surge da parceria entre o Município de Coimbra, o Forum Coimbra e a Associação Há Baixa – aportou a dimensão humanista de Eduardo Lourenço através da conceção da peça que envolveu 15 mulheres, com mais de 55 anos, num trabalho de valorização, de partilha de conhecimento e de envolvimento comunitário. Ainda no âmbito das comemorações de centenários assinalaram-se na programação os legados de Eugénio de Andrade, de Natália Correia e de Mário Cesariny.

 

A Biblioteca Municipal de Coimbra, também ela centenária em 2023, contribuiu com uma programação vasta para a Feira do Livro, destacando-se o trabalho desenvolvido no âmbito da programação infantil, assim como a dimensão pedagógica transversal à sua ação, atraindo crianças e famílias para o espaço da Feira.

 

No âmbito da programação associada ao conhecimento, foram promovidas várias apresentações de livros e encontros com autores onde se destacaram nomes como Vicente Alves do Ó, José Gomes Mendes, Ruth Colaço, Rui Couceiro, Mauro M. Nakamura, Bruno Paixão, Isabel Stilwell e Afonso Cruz.

 

A música de Coimbra, patrocinada pela Fundação INATEL, foi também um sucesso. A plateia ficou repleta para ouvir o Coro Alma de Coimbra, os Guitarrinhos do Mondego e Toeira Trupe e o Quarteto Alva, fortalecendo-se, desta forma, a relação com ecossistema cultural local.

 

No âmbito da Música e Performance a programação foi composta por “mestres da palavra” provenientes de vários géneros musicais e correntes artísticas. “Os Surrealistas”, novo álbum dos Lisbon Poetry Orchestra, abriram as hostes, de Auditório cheio, com a declamação de poesia disparada em cima de uma banda com soslaios de influência rock. Maze & Spock, assim como a “Purga” do rapper Nerve, acrescentaram a escola da palavra de língua afiada, com influência no Rap e do Hip-hop, destacando-se o momento de microfone aberto, na Purga – sessão de poesia de autor, com uma participação massiva da parte do público. O projeto “Estilhaços de Escuridão” de Adolfo Luxúria Canibal, com álbum lançado nas vésperas da apresentação em Coimbra, veio reforçar o trabalho do vocalista dos Mão Morta como um dos principais performers poéticos da cultura nacional. Na arte das canções, a programação contou com a presença da Joana Alegre, que musicou vários poemas conhecidos do público, promovendo um concerto íntimo e poético. O encerramento da Feira ficou ao encargo de A Garota Não, com seu aclamado álbum “2 de abril”. O concerto da cantautora setubalense foi um dos momentos maiores do evento, tocando o público com as melodias, o cortejo das palavras e a honestidade da sua arte.

 

A participação do público nos debates, nas conversas, nas apresentações ou performances, desmistificou o conceito de plateia passiva, denotando que esta edição contribuiu para a reflexão e para a participação de um público diversificado que fez deste evento um espaço de exercício de cidadania, onde houve lugar para o contraditório.

 

O presidente da CM de Coimbra, José Manuel Silva, anunciou o desejo de fazer crescer a Feira do Livro de Coimbra a outros espaços da Baixa, justificando o não crescimento nesta edição devido aos constrangimentos financeiros. O sucesso do evento pode ser medido através de uma avaliação transversal manifestada por vários agentes que mencionaram que a Praça do Comércio já se torna pequena para a dimensão do mesmo.

 

A CM de Coimbra agradece, mais uma vez, aos seus colaboradores e respetivos serviços envolvidos neste evento pela dedicação e pelo profissionalismo, às entidades externas que apoiaram e patrocinaram este certame, aos comerciantes locais e a todos aqueles que tornaram possível esta renovada edição da Feira do Livro, que reencontrou o seu espaço, o seu público, o seu estatuto e a sua dignidade, promovendo a inquietação criativa, o encontro, o convívio e a empatia.

 

O evento cultural contou com os apoios do Forum Coimbra (com o financiamento do projeto de arte urbana, de inspiração na obra de Eduardo Lourenço, da artista Aheneah, com curadoria da Associação Há Baixa, inserindo-se no projeto Saco da Baixa), da Fundação INATEL (com a inclusão, na programação, de três projetos musicais de Coimbra) e d’A Previdência Portuguesa (responsável pela presença do jornalista e escritor Luís Osório na apresentação do livro “Os Segredos do Juvenal Papisco” de Bruno Paixão). 

 

Enquanto parceiros de produção, a Feira contou com a Agência para a Promoção da Baixa (através da sensibilização e do envolvimento dos comerciantes da Baixa para o evento) e com a Associação de Doceiros de Coimbra (com a contribuição diária das iguarias doceiras de Coimbra para o catering). 

 

Os parceiros de programação foram a Associação Portugal Brasil 200 anos (responsável pela curadoria do Ciclo da Cidadania da Língua), a Associação Apura (curadora do Ciclo Emergente), a Associação Há Baixa (através da curadoria do projeto de arte urbana da artista Aheneah), a Cooperativa Bonifrates (com as performances poéticas relacionadas com Eduardo Lourenço), a Associação Recortar Palavras (com o espetáculo de “Lendas de Coimbra”) e a Associação Académica de Coimbra (através da dinamização de jogos de tabuleiro).  Por sua vez, a Rádio Universidade de Coimbra foi parceira de comunicação através da cobertura, em direto, do evento.



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