Natural de S. Caetano, António Canteiro escreveu diversos livros e é um autor premiado.
Autor premiado, como te sentes depois de uma apresentação na tua terra?
O facto de ser autor premiado significa, tão somente, que os meus originais, ainda escritos em folhas A4 foram sujeitos à apreciação de um júri. O prémio, em si, conta pouco, o que conta é a seriação, é a avaliação da qualidade ou não daquilo que escrevo.
Disse no meu discurso, em S. Caetano, no dia 16 de julho, o seguinte:
Foi a palavra «partilha», esta pequena palavra de três sílabas – que me tinha acompanhado ao longo de mais de 20 anos como coletivista em S. Caetano… (com tanta gente que me escuso agora de nomear, alguns estão presentes entre nós, outros não) … Agora com a escrita existe outra forma de «partilha», porque escrevemos livros juntos – E repito, NÃO ESCREVI OS MEUS LIVROS, SOZINHO -, aquelas palavras que vou deixando por aí, como criança que espalha milho a pombos, são também as VOSSAS, aquelas que recolho de todos com quem me cruzo, na vasta Gândara.
Com “Nocturno” partilhei com os primeiros leitores este texto, sobre António Fragoso, o romance «Nocturno», ainda virgem, primeiro com a minha esposa e também os meus filhos, obrigado pelas sugestões que sempre me deram. Concluída a primeira versão de “Nocturno”, um exemplar seguiu, por alturas de Natal, para casa de Eduardo Fragoso, e partilhei outro, com a futura pintora da capa, a Dina Lopes, depois também o Pedro, seu marido, que foi o quinto leitor a mergulhar no romance. Ao longo do tempo de amadurecimento da obra Nocturno, tive mais dezena e meia de outros leitores, amigos, músicos… antes de vir a ser publicada.
Como defines este romance?
A escrita deste romance, no início, confesso, assustou-me, tal era a envergadura deste empreendimento. Mas, no fim, acabou como produto híbrido: em parte romance, enquanto ficção/invenção de uma história plausível para a vida de Fragoso; em parte biografia, com dados exatos sobre factos da sua vida, da sua família; em parte ensaio, com uma hipótese, para os títulos das suas obras serem fruto da sua experiência de vida; por fim, outra parte memória, uma obra sobre a um génio da música, sobre a vida desta família, as suas relações afetivas, religiosas, costumes, tradições de uma aldeia, a Pocariça, de há 100 anos, e da pneumónica/amarela, que dizimou milhares de cidadãos/jovens da altura.
Que podemos esperar mais de ti como autor?
Futuramente, sobre o que me espera enquanto escritor, nada sei! Tenho a gaveta vazia. Estou parado, nada escrevo, como que estou de férias: leio, ouço música, passeio, estou com amigos, cuido de uma horta, leio, ouço música, devoro livros e conversas com pessoas mais velhas (mais sábias), e volto a ler, um livro por semana, cerca de 60/70 obras por ano, de género diferente (poesia, romance, ensaio, biografia) e aguardo frutos de todas estas leituras, de todas estas experiências de diálogo com a vida, cimentando assim, em crescimento, a minha evolução enquanto autor/escritor, mas especialmente enquanto pessoa/gente.