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CHRISTINA OLIVEIRA GOMES: “ESTA É UMA PROFISSÃO QUE CARECE DE PROFUNDAS ALTERAÇÕES QUANTO AO SEU ESTATUTO NO SENTIDO DE COMBATER A PRECARIEDADE QUE AINDA SE SENTE”

ENTREVISTAS

Christina Oliveira Gomes é professora. Leia tudo o que ela tem para dizer.

 

Como apareceu o desejo de vir a ser professora? 

Tendo em conta que a profissão relativa à educação e ao ensino implica precisamente ensinar e educar, reveste a feição de uma constante e reiterada aprendizagem ao longo da vida e tem subjacente a própria interação com os discentes renovando e atualizando as suas e as nossas aprendizagens, o desejo de ser professora surgiu precisamente no primeiro ano de Faculdade, na unidade curricular de Direito Constitucional. Recordo-me de me sentir deslumbrada com a interação dos docentes com os alunos, com o nível de cultura e conhecimento que os mesmos apresentavam, com a paixão que emanavam na transmissão de conhecimentos científicos. Trata-se de comportamentos que adoto atualmente com os meus estudantes, respeitando sempre os deveres de rigor, diligencia, correção e prontidão.

 

Que saudades tem da Universidade? 

Eu sou e serei uma estudante universitária ao longo de toda a minha vida. 

Iniciei este ciclo com uma licenciatura em Direito que me permitiu integrar o quadro de honra da Faculdade, passei por pós-graduações, por um doutoramento e atualmente estou a concluir o meu pós-doutoramento. Trata-se, como referido, de uma constante e reiterada formação e sobretudo de uma grande paixão pelo ensino.

Foram e são períodos de trabalho, de estudo e de esforço intensos, mas que valeram e valem a pena.

Não sinto nenhuma saudade em particular, porque continuo a ser uma estudante, exceto quanto ao convívio e à fraternidade que existia entre colegas. Ainda hoje sinto um carinho especial pelos amigos que fiz aquando da licenciatura. Trata-se de momentos que guardo no coração.

 

Hoje a trabalhar no ensino. Em que consiste, concretamente, o seu trabalho? 

O trabalho de um professor do ensino superior implica uma dedicação extrema ao estudo e à investigação. Para além de preparar as aulas e de ter as sessões de contacto com os discentes, existe uma panóplia de afazeres subjacentes.

Um professor de ensino superior tem de estar constantemente atualizado, principalmente na área das Ciências Jurídicas. 

O meu trabalho passa por isso mesmo: sessões de contacto com os alunos tanto ao nível de aulas como de orientações tutoriais; constante e reiterada atualização científica; por correção de inúmeros trabalhos de investigação e de dissertações; por orientar os alunos nos seus trabalhos de investigação; por escrever artigos de investigação científica e ser palestrante em eventos de natureza científica; por organizar eventos científicos; por integrar Centros de Investigação; por ter formação avançada na minha área; por fazer mobilidade em universidades europeias; por constituir júri de provas públicas ao nível do mestrado e ao nível da licenciatura, entre outros. Enfim, implica uma constante e forte disponibilidade para a aprendizagem, para a renovação e para a transmissão de conhecimentos.

Não existem vocábulos suficientes para definir sinteticamente esta profissão. Trata-se de uma vocação, de uma missão, de um pilar fundamental do futuro de uma sociedade.

 

O Direito é apenas uma palavra para si ou é muito mais do que isso? 

Como referia o saudoso Professor Antunes Varela, o direito reveste um duplo sentido tanto na linguagem corrente como na terminologia jurídica. Em síntese, reveste um sentido subjetivo como o poder ou faculdade de exigir de outrem um determinado comportamento e reveste um sentido mais amplo, um sentido objetivo, como o alcance da regra, preceito ou conjunto de preceitos sobre o qual assentam aqueles poderes. A ordem jurídica pode ser definida como um conjunto de normas, princípios, instituições e institutos jurídicos que regem a vida em sociedade. O Direito é, assim, um complexo normativo ordenador e disciplinador da vida social.

Vivo o Direito com intensidade e paixão, pelo que o mesmo não se cinge a um mero vocábulo. Tem subjacente ideais de justiça e de segurança jurídica e é nesse sentido que norteio o meu comportamento em sociedade e de todos aqueles que me rodeiam, isto é, daqueles que integram a minha esfera de relações sociais, familiares e profissionais.

 

Sempre a aprender e a estudar mais ou acha que já sabe tudo? 

Como referido anteriormente, o conhecimento nesta área é infinito. Estamos sempre em aprendizagem. Daí a necessidade de ter formações avançadas e duradouras ao longo da vida e de investigar cientificamente. Referindo em poucas palavras: sempre a aprender e a estudar mais.

 

Como vê o ensino em Portugal? 

O ensino em Portugal sobretudo ao nível do ensino superior em Direito constitui uma profissão nobre, de acesso difícil e aberto apenas aos que demonstrem competências científicas, técnicas e pedagógicas adequadas e valorizadas.

Trata-se, no entanto, de uma profissão que carece de profundas alterações quanto ao seu estatuto no sentido de combater a precariedade que ainda se sente.

 

É difícil ser professor neste país? 

Eu entendo que para se enveredar por esta profissão tem de se sentir paixão pela mesma. Tem de se sentir um forte gosto e aptidão pela transmissão de conhecimentos e tem de se ter uma capacidade de interação com os discentes que, como sabemos, apresentam diferentes preparações pedagógicas. Temos de ter presente a conceção subjacente ao desenvolvimento humano atendendo ao facto de que cada discente tem o seu ritmo. 

Como referido, não é difícil ser professor neste país. Tem é de se trabalhar muito para o ser. Tem de se ter capacidade de resiliência e de persistência, dedicação e trabalho árduo. Nada é, por isso, impossível. Trabalho, foco, esforço e dedicação são os passos inevitáveis para este caminho…

 

É feliz a fazer o que faz profissionalmente?

Sou muito feliz e sinto-me realizada profissionalmente. Sinto-me realizada e feliz com as minhas e com as conquistas dos meus alunos. Sinto que desempenho um papel fundamental na sociedade no âmbito da construção do caráter de muitos e da sua futura integração profissional. Como refiro inúmeras vezes: o sucesso dos meus discentes é o meu sucesso. Indico-lhes os caminhos que devem percorrer. Tenho orgulho do vínculo criado e do meu comprometimento com a minha missão.

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