Aparecia no Largo do Moliço, atual Largo das Alminhas, vindo dos lados do Perboi, S. Caetano, por entre caminhos de areia, o boi marinho, pachorrento e forte do Ti Basílio do Sal . No meu imaginário roda ainda como se fosse uma nova série, o musical marulhar do búzio a anunciar a passagem à raia das estremas sem estradas. Das medidas ainda se ouve contar, da metrologia antiga, por almude, alqueire, moio, razão e arroba. Nos porões dos pesqueiros seria ” quintal”. Consta, do alqueire cá da aldeia serem de equivalência aos treze quilos e meio. O saco da juta tinha capacidade e resistência para mais de 5 alqueires que, bem “rateado” na salgadeira, único meio de conservação, daria para duas matanças anuais. Sobre demais temática ao sal poder-se-á recomendar aqui,” Uma janela virada para o sal”, livro de tri-autoria Ana Maria Lopes, Etelvina Almeida e Paulo Godinho, edição de 2015, livro que até hoje, das nossas salinas, melhor lhes explana a ciência e a imagem fotográfica. Por conta, peso e medida, o sal é cura e longevidade do próprio tempo e, daquilo que com ele(a)s fazemos. Salgados para viver, (des) salgados para crescer. A Ria de Aveiro, Mãe salina, sempre evoca a gândara, o moliço e o sal. A Gândara facilmente se esquece da Ria. Porém, os braços regionais estão entre os Rios Bóco e Mondego. Nesta breve abordagem, contam algumas inspirações recém conhecidas do autor Aveirense Mário Marnoto em edição de 2004, titulado ” Ria Viva ” que se apresenta aos povos ribeirinhos, Península de S. Jacinto, Ria e braços dela, reivindicando-se etnográfica e historicamente. Também eu comprei alguns alqueires de sal, para mim e para aqueles que de mim dependeram na inconformidade de tempos severos, de sal forte, denso e grosso capaz de alcançar a doçura em troca de salgadas lágrimas e suores humanos excessivos, por quantos alqueires de vivências cristalizadas ao temperar a vida.
Domingos Neto