Antero Freitas é professor, a animação sociocultural também apareceu no seu caminho, e mostra-se preocupado por algumas aldeias do concelho, como a Barra onde reside, não tenham ainda saneamento básico.
Professor diplomado pela Escola do Magistério Primário de Viseu. Como recorda esse tempo de estudo?
Foi com muito entusiasmo que iniciei o Curso de Professor Primário em 1974. Tinha nessa altura 25 anos, acabado o serviço militar, poucos dias depois do 25 de Abril. Era tempo de mudança. Fora restaurada, finalmente, a liberdade e nasce, em mim, uma grande vontade de transformar e lutar por um Portugal livre e democrático. Os meus colegas de curso eram jovens de 16/17 anos e, no início do ano letivo, alguns tratavam-me por professor. Foram dois anos de muito estudo e trabalho, pois tinha que arranjar dinheiro para as despesas de quarto, alimentação e artigos escolares. Durante esse tempo, trabalhei no F.A.O.J, projetava filmes nas aldeias de Viseu e fazia pinturas com as crianças.
A Animação Sociocultural também faz parte do seu currículo. Que “uso” deu a essa área?
Quando me candidatei ao Curso de Animação Sociocultural, fi-lo pelo facto de ter um currículo vasto nessa área (sócio fundador dos Grupos de Teatro – Giestas do Montemuro, Banda de Lá- Música Tradicional Portuguesa, Caça e Pesca de Castro Daire, entre outros) e que contribuíram para ter entrada no primeiro curso que frequentei na Escola Superior de Viseu.
A música e o teatro estiveram no seu caminho. Que nos pode dizer desse tempo culturalmente rico?
Para além de uma ligeira passagem pelo teatro amador, foi na recolha e divulgação da música tradicional portuguesa que mais participei, tendo o Grupo, de que fui presidente, editado cinco trabalhos discográficos, tendo um deles recebido o prémio de melhor disco do ano, na categoria Música tradicional portuguesa- Recolha, atribuído pela Rádio Renascença.
Sindicalista. Como vê a luta da sua classe?
Cedo comecei a ter consciência de que era preciso lutar por melhor salário, (que era, nessa altura, muito baixo) e condições de trabalho, pelo que, logo no primeiro ano de exercício, me filiei no SPRC, tendo desempenhado funções de delegado sindical e dirigente, mas só um ano o fiz a tempo inteiro. Ensinar era o meu principal objetivo. Gostava de conhecer a realidade das escolas e estar sempre atualizado.
Tenho orgulho no caminho que fizemos para alcançar o nosso primeiro ECD. Era um estatuto que nunca devia ter sido alterado do modo como foi. Os atuais professores estão a encetar, há já algum tempo, justa luta para minimizar os estragos provocados.
Castro Daire é o concelho onde nasceu. Que representa essa terra para si?
Tenho uma forte ligação ao meu concelho, onde lecionei durante muitos anos e onde sou reconhecido como professor e cidadão. Castro Daire é a minha Terra-mãe e sempre que posso vou ver as minhas origens e amizades de uma vida.
O município convida-me regularmente para iniciativas de carácter cultural e literário. É aí que faço o lançamento dos meus livros.
É presença mais ou menos assídua na terra que o viu nascer?
Sim, pelas razões que atrás referi.
Reside no concelho de Mira. Como vê o desenvolvimento de Mira, como concelho, e da freguesia onde reside?
Pelo que tenho verificado, desde que cheguei a esta terra e passados quase vinte anos, nada mudou. Para mim é inadmissível que Barra de Mira, bem como outras aldeias ainda não tenham saneamento básico. Dei aulas em aldeias serranas há mais de 25 anos e todas elas tinham água canalizada e saneamento básico.
As atividades culturais e desportivas, salvo raras exceções, são raras.
Mira merecia mais um pouco!
Que sonhos ainda quer ver concretizados no próximo futuro?
Apesar de problemas de saúde, que me têm assolado nos últimos anos, tenho em perspetiva a edição de mais um livro de poemas, que estou a estruturar e um livro de histórias para crianças, CANTA’STÓRIAS, que me encontro a escrever, mas que foi interrompido, por razões de saúde.
Só a morte me fará desistir dos meus sonhos.