Alexandre Almeida nasceu no Brasil, veio para Portugal e tem sido um incansável na vida. Depois do sofrimento, acredita que pode ainda chegar a lugares nunca imaginados.
Nasceu no Brasil, trabalhou lá e um dia teve de partir. Foi difícil?
Sim, nasci no Brasil e o difícil até não é partir, mas ter condições financeiras para passagens e documentos, pois eu e minha esposa éramos de famílias pobres e tivemos uma vida difícil no Brasil. Quando eu conheci minha esposa eu morava na rua e debaixo de pontes pois minha mãe me expulsou de casa quando eu tinha 16 anos.
Cá por Mira foi “homem dos sete ofícios” e fez um pouco de tudo. Conte como foi?
Quando cheguei em Portugal trabalhei uma semana assando frango no restaurante Cambraia em Praia de Mira, uma semana depois fui trabalhar em outro restaurante também na Praia de Mira como ajudante de cozinha no Custódio lavando pratos e panelas pois era verão, e assim que acabou o verão comecei a trabalhar no restaurante gourmet Pátio do Tabuinhas no Mira Villas como atendente de mesas. Ali a Dona Natália gostando do meu trabalho trouxe um metry da França para me dar formação e me colocou como chefe de sala em seu restaurante, mas veio a pandemia e tive que sair do restaurante e procurar um lugar pra trabalhar onde não parasse na pandemia e foi ai que entrei nas Batatas Mirense como operador de empilhadores descarregando camiões. Fiquei lá seis meses mais era difícil pois trabalhava de16 a 18 horas por dia de segunda a sábado e, então, fui chamado para trabalhar numa empresa de sanitas (a Sanindusa) na olaria onde fiquei um ano e meio até sair minha documentação portuguesa, cartão de residência e carta de condução. Depois fui para a Transdev onde estou há quatro meses, pois este era meu intento, já que trabalhei durante oito anos como condutor de autocarros no Brasil.
Na Transdev acha que encontrou o seu caminho?
Faço o que gosto e o que sei fazer. Mas tenho fé em Deus que um dia ainda terei condições de fazer a categoria C e a E da minha carta de condução para futuramente talvez ir para os camiões.
A vida nem sempre é fácil. Como tem sido, além do trabalho, a sua nestes últimos quatro anos?
Tive uma perda horrível há oito meses. Tinha uma filha linda que estudava em Cantanhede na área da saúde e trabalhava aos finais de semana numa loja de roupas em Praia de Mira. Nesta época eu morava em Colmeal. Um dia ela saiu atrasada para trabalhar, ela tinha uma scooter elétrica, e se perdeu numa curva onde caiu e bateu a cabeça causando traumatismo craniano. Ficou três dias internada e no dia em que ia completar 18 anos morreu. Dois meses depois minha outra filha, que morava no Brasil, casada e com uma filhinha de três anos, se separou e seu esposo de apenas 25 anos não aceitou a separação e se matou enforcado num ato de desespero pois a família do rapaz a expulsou da casa com sua filha. E, falando que ela foi culpada de ele se matar.
Mesmo sem condições, e ainda abalado pela perda da outra filha, fiz o impossível mais consegui trazer ela e minha netinha pra Portugal e hoje faz dois meses que moram em minha casa. Desde que cheguei em Portugal só eu trabalho, pois, minha esposa entrou em depressão e fobia por não entender o sotaque dos portugueses. Tenho mais duas filhas, uma de 14 anos que estuda em Mira, e uma de 22 anos que mora com um rapaz português que tenho como filho. Realmente um excelente rapaz.
É bom viver em Mira?
De todo o Portugal eu não poderia ter escolhido lugar melhor. Hoje moro na Praia de Mira, mas mesmo quando morei em Mira fiz ótimas amizades e eu e minha família fomos muito bem acolhidos e realmente abraçados pelos portugueses.
Que espera do futuro para si e a sua família?
Espero ver minhas filhas formadas e bem-sucedidas e, quem sabe, um dia poder comprar minha casinha em Portugal mesmo que financiada. Sei que é um sonho quase impossível pois já estou com quase 50 anos e como eu disse, só eu trabalho, mas aprendi que o que para nós é impossível para Deus é possível. Espero que tudo o que passei até agora sirva de exemplo para muitos e para as minhas filhas. Se tivermos um foco, tivermos fé em Deus e nunca desistir, podemos chegar a lugares que nunca imaginamos.