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A IMPORTÂNCIA DA CORAGEM PARA A FELICIDADE

Opiniao

Em geral, onde há medo, precisa de haver coragem. E onde há coragem, tem de haver medo, pois a condição de possibilidade da coragem é o medo. Se uma pessoa não sente medo, não realiza coragem, nem sequer precisa dela. Sem coragem ninguém consegue ser feliz. São muitas as bifurcações da vida em que os caminhos felicitários precisam de escolhas corajosas. A cada instante das nossas vidas é mais fácil acovardar do que encorajar. 

Precisamos de coragem sempre que sentimos medo e precisamos de avançar. E precisamos de pensar, agir, fazer, dizer, ajudar, contrariar. Precisamos de coragem quando precisamos de dizer: não. Precisamos de coragem quando precisamos de dizer: sim. Sendo mais fácil dizer os contrários. Precisamos de coragem para contrariar as expectativas que os outros possam ter de nós. Precisamos de coragem quando temos medo de ser rejeitados pelos outros, e ainda assim fazemos o que sentimos que devemos fazer, o que acreditamos que devemos fazer. Precisamos de coragem para questionar, para colocar em causa, para colocar em causa preconceitos, autoridades, incongruências, etc. Sempre que exista medo. 

Precisamos de coragem para sermos diferentes, para pensarmos de forma diferente, para sentirmos de forma diferente, para fazermos de forma diferente, para acreditarmos de forma diferente, para falarmos de forma diferente, para agirmos de forma diferente. Precisamos de coragem para arriscar na vida. Pois “quem não arrisca não petisca”. Quase nenhuma grande conquista na vida se consegue sem valentes doses de coragem. Pois a vida está sempre a pôr-nos à prova. E como reagimos? Com coragem ou covardia? O caminho mais fácil é o caminho da covardia. Mas ao mesmo tempo o caminho mais infelicitário também é o da covardia. Claro que existem outras variáveis pelo meio. Mas precisamos de compreender que, enquanto que para a infelicidade pode haver covardia e coragem (pois para certas “maldades” também é preciso coragem), para a felicidade, neste mundo desafiante em que vivemos, precisamos mesmo de coragem. Não dá para desligar a coragem da felicidade. Neste mundo desafiante, arriscado, em que vivemos. Viver, por si só, é um desporto radical. Em cada momento podemos morrer. Em cada momento estamos em contacto com a possibilidade da dor e da morte. E o que é que fazemos diante isso? E o que é que escolhemos? E como é que nos comportamos? Fugimos, enfrentamos? Coragem ou covardia? Eis a questão.

Quando temos medo, sentimos e acreditamos que devemos fazer algo, e, apesar do medo, avançamos, isso é ter coragem. E uma coragem felicitária. Quando sabemos que poderemos ser rejeitados pelas outras pessoas, por não estarmos a fazer escolhas “normais”, por não estarmos a satisfazer as expectativas que possam ter de nós, por estarmos a arriscar, e ainda assim avançamos, isso é realizar coragem. Claro que a coragem nunca vem só. Claro que a coragem nunca deverá vir só. Precisamos de outras virtudes como a prudência, a bondade, a paciência, etc. Precisamos de equilibrar a virtude “coragem”, com todas as outras virtudes morais e intelectuais. Para que a coragem não se torne temeridade. 

A coragem também precisa da autoestima. Quantas pessoas deixam de pensar e de dizer o que pensam, porque, por não gostarem de si mesmas, têm um profundo medo de que as outras pessoas também não gostem? Pois. Para a felicidade, precisamos de várias realizações interiores, como: a coragem, a autoestima e a autoconsciência. Não basta eu ter autoestima e coragem para fazer as escolhas que sinto e acredito que deva fazer. Eu também preciso de me conhecer a mim mesmo. E para isso, também poderei precisar de coragem para me desconstruir, para abandonar a ideia que as outras pessoas me impuseram (mesmo que de forma inconsciente) acerca de mim mesmo. Talvez não seja o que as outras pessoas pensam que sou. Talvez não seja aquilo que as outras pessoas querem que eu seja. Nem sequer as pessoas de quem mais gosto, ou que supostamente gostam mais de mim. Eu sou o que sou. Cada um é o que é. E é isso mesmo que cada um de nós deverá procurar descobrir. Assumindo essa responsabilidade individual. Não empurrando para mãos de terceiros/as. E alimentando uma síndrome da vitimização. A vitimização pode também ser uma forma de covardia. Há pessoas que têm medo de assumir a responsabilidade das consequências dos próprios atos. E quem abdica da responsabilidade da própria infelicidade, acaba por abdicar da responsabilidade e poder da própria felicidade, da própria conquista individual da felicidade. 




Capítulo da obra “Reflexões filosóficas sobre a felicidade Todos os Volumes” (Chiado Books, 2021). Autor Filipe Calhau.

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No spotify (podcast): 

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Filipe Calhau é natural de São João da Madeira e residente com raízes familiares em Vagos. É licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra. É consultor filosófico. É ativista filosófico e para uma pedagogia da felicidade. Membro da APAEF – Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico, onde dá formação certificada em Individualogia. Foi conferencista na 5ª edição do Seminário de Estudos sobre a Felicidade, com o tema: “Ética a Nicómaco”, realizado na Universidade Católica Portuguesa a 29 de maio de 2019. Investigador integrado no projeto “Perspetivas sobre a felicidade”, Contributos para Portugal no WHR (ONU). Tem um canal de filosofia no YouTube e várias obras publicadas na área (18 obras ao todo, publicadas em Portugal e no Brasil).

 

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